A disparidade no acesso à saúde de qualidade no Brasil passa por diversos fatores, entre eles o problema histórico de limitação de médicos especialistas por região. Soluções tecnológicas, porém, podem encurtar essas distâncias e causar impactos significativos na proteção à vida.
Durante o III Global Boardroom, conferência digital promovida pelo Financial Times, fui convidado a falar sobre como usar a tecnologia na área da saúde para o bem na América Latina. O painel que participei propôs uma discussão sobre de que forma a crise pode se transformar em uma oportunidade de desenvolvimento.
Neste artigo, vou falar sobre este tema, além de alguns aspectos do cenário atual de desigualdade no acesso à saúde no Brasil, tecnologias avançadas que ajudam a sanar parte destes problemas e em que pontos levamos vantagens em relação a países mais desenvolvidos. Confira!
Segundo dados da Demografia Médica do Brasil 2020, estudo realizado em uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), mais da metade (53,2%) dos médicos do país se concentram na região Sudeste.
Apesar do mesmo estudo mostrar o aumento do número de profissionais na área nos últimos anos, a média de médicos por mil habitantes ainda é crítica em alguns lugares.
As regiões Norte e Nordeste vivem a situação mais complexa, com média de 1,30 e 1,69 médicos a cada mil habitantes, respectivamente. Essa proporção é mais de 40% inferior à média nacional.
Mas a diferença no acesso à saúde não ocorre somente entre diferentes regiões. Para se ter uma ideia, se hoje uma pessoa chega a um hospital de ponta em São Paulo sofrendo um ataque cardíaco, a chance de ir a óbito é de 3%. Se este paciente chegar com o mesmo problema a uma unidade de saúde de um pequeno município no interior do Estado, esse risco aumenta para 24%.
Isso ocorre por diversos fatores, mas os principais, e sobre os quais falaremos neste texto, são:
Não há como falar em desigualdade no acesso à saúde de qualidade sem levar em conta a desigualdade social do Brasil, a nona maior do mundo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) de 2020.
A Pesquisa Nacional de Saúde, também do IBGE, aponta que 150 milhões de brasileiros, o equivalente a 71,5% da população, não têm plano de saúde. Ou seja, dependem do sistema público. Nas regiões Norte e Nordeste este percentual é superior a 80%.
Portanto, quando falamos em acesso à saúde precisamos pensar em dois fatores:
A diminuição de gastos com saúde permite ampliação da capacidade de atendimento sem despesas extras para o poder público. Na saúde privada, oportuniza que clínicas e hospitais possam oferecer exames e atendimento com valores mais acessíveis à população.
Mas de que forma, afinal, o uso de tecnologia e inteligência artificial pode ajudar a reduzir estas desigualdades?
Para explicar isso vou trazer um exemplo prático e com resultados concretos sobre a solução que está sendo utilizada em Tarumã, município de 18 mil habitantes, a 457 quilômetros de São Paulo.
Até 2018, quase um quarto (23,5%) do total de mortes de seus habitantes estavam relacionadas a problemas cardiológicos. Entre os principais motivos estavam a ausência de médicos cardiologistas à disposição para atender ou laudar exames de eletrocardiograma com agilidade.
Assim, o período de tempo entre o atendimento, a realização de exame, emissão do laudo e retorno para a unidade de saúde durava dias, o que em muitos casos custava a vida do paciente. Isso porque alguns problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio, necessitam de intervenção rápida.
Foi então que a cidade implementou a telecardiologia. A solução aplicada por meio de uma parceria entre a Portal Telemedicina e a iSalut permitiu que os aparelhos de eletrocardiograma utilizados em unidades básicas de saúde fossem conectados a uma central com cardiologistas renomados disponíveis a qualquer hora do dia.
Desta forma, a cada exame de ECG realizado, o próprio equipamento passou a enviar os dados coletados de forma automatizada a uma central. Durante este percurso, algoritmos de machine learning e inteligência artificial atuam para, com base em uma ampla base de dados, detectar exames que estão com alterações e precisam ser priorizados.
Isso permite que um especialista dessa central médica envie o laudo do exame de volta à unidade de saúde em até cinco minutos em situações graves.
Caso ele observe que o paciente necessita de uma rápida intervenção, como por exemplo se ele estiver sofrendo um infarto, ele entra em contato com o profissional que está realizando o exame por videoconferência e passa as condutas a serem tomadas para estabilizar o paciente até encaminhá-lo a um centro de atendimento adequado.
Assim, Tarumã conseguiu resultados incríveis: após oito meses de implementação da telecardiologia, o município reduziu o número de mortes por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), onde se enquadram os problemas cardiológicos, em 45%.
E após 18 meses, houve redução de 30% nos gastos da prefeitura com doenças cardiológicas. Ou seja, ao mesmo tempo em que vidas foram salvas, os custos foram reduzidos.
E é desta forma que a tecnologia pode ajudar a reduzir desigualdades, permitindo que pequenas clínicas situadas em áreas remotas tenham a mesma eficiência e números semelhantes aos de grandes hospitais localizados em capitais.
O resultado da telecardiologia em Tarumã foi tão satisfatório que o governo do Estado de São Paulo considerou este trabalho uma prática inspiradora e estabeleceu como meta aplicar essa mesma tecnologia em 100 municípios até 2022.
Um outro dado que chamou a atenção neste processo: enquanto Tarumã teve redução no número de mortes por DCNT, cidades vizinhas tiveram aumento de 18% no mesmo período. O que corrobora o nível de eficácia desta solução.
De acordo com levantamento de mortalidade feito pelo DataSUS, departamento de informática do Sistema Único de Saúde, de 2018, a principal causa de morte entre brasileiros são doenças do aparelho circulatório, o que inclui problemas arteriais, doenças hipertensivas e infarto agudo do miocárdio.
Imagina o quanto conseguiríamos reduzir deste índice tornando o exame cardiológico mais acessível e dinâmico e dando acesso a médicos cardiologistas às pessoas independentemente de sua localização geográfica.
Neste exemplo estamos falando apenas da telecardiologia, mas o laudo médico à distância pode ser aplicado em diversas áreas médicas e outros exames. Na Portal Telemedicina trabalhamos com:
Agora você pode estar se perguntando, mas de que forma o uso de tecnologia avançada pode reduzir custos na área da saúde?
Para melhor explicar, vou separar essa questão em dois tópicos importantes: custo para implementação e fortalecimento da atenção primária.
Para ambos, a forma de cobrança para a implementação de uma solução de telelaudo será por demanda gerada, ou seja, ou por número de exames realizados, no caso de instituições privadas, ou pelo número de vidas atendidas, no caso de unidades de saúde pública.
Ou seja, o custo de implementação é praticamente nulo. Como a solução da Portal Telemedicina é adaptável a 90% dos equipamentos médicos do mercado, não há necessidade da aquisição de novos aparelhos, a não ser que o local queira expandir sua infraestrutura.
Após esta etapa, tudo o que é necessário é: internet de qualidade ( o que a maioria das clínicas, unidades de saúde e hospitais já dispõem) e treinamento da equipe de saúde que realizará o exame para saber como operar os equipamentos.
Lembrando que na prática da realização do exame nada muda, só alteram alguns cliques necessários para o envio de informações.
Ao pagar por demanda de laudos gerados, essas clínicas ou unidades têm especialistas disponíveis 24 horas por dia e sete dias da semana sem ter de arcar com custos e honorários contratuais, já que estes profissionais são remunerados pela empresa de telemedicina contratada.
O período de espera para a realização de um exame, dependendo de qual tipo, é de meses, o que, como consequência, leva ao aumento do número de doenças descobertas em estágio já avançado e ao tratamento tardio.
Usando como referência apenas o câncer, segunda doença que mais mata no Brasil de acordo com o Datasus, estamos falando em um tempo médio de 270 dias para o diagnóstico, segundo a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama).
Um acórdão divulgado pelo Tribunal de Contas da União em 2019 mostra que 55% dos pacientes começaram o tratamento contra a doença já nos estágios três e quatro. Em alguns tipos de câncer, o percentual de pessoas que iniciaram o tratamento em estágio avançado chega a 80%.
Isso além de aumentar custos gera um impacto muito mais preocupante que é a redução da probabilidade de cura destes pacientes, já que ela diminui conforme a doença avança sem o tratamento adequado.
Agora imagine que com a redução e agilidade no processo de realização de exames, o tempo médio de espera dos brasileiros para realizar estes exames e ter esse diagnóstico reduzisse drasticamente?
Imagine ainda que exames em geral, inclusive os de imagem, contassem com inteligência artificial e algoritmos de machine learning capazes de identificar nódulos milimétricos, difíceis de se detectar a olho nu e os apontassem para o médico?
Todas essas soluções já estão disponíveis e podem reforçar a atenção primária, o que além de salvar vidas vai gerar redução de gastos em geral com doenças em estágio avançado.
Isso porque a tecnologia que estamos desenvolvendo aqui, é a única que quebra a barreira de falta de conexão entre diferentes sistemas e softwares médicos para integrar todos eles, permitindo uma visão 360º do paciente. Além disso, nossas soluções podem ser implementadas em qualquer lugar do mundo.
Temos muito orgulho de dizer que essa tecnologia é feita no Brasil e por brasileiros. Durante o 3º Global Boardroom, conferência mundial organizada pelo Financial Times para discutir formas sustentáveis de resolver a crise mundial gerada pela pandemia, fui questionado sobre as limitações e dificuldades no desenvolvimento deste tipo de solução em um país subdesenvolvido.
Realmente os desafios são grandes devido a uma série de fatores, como o atraso na regulamentação da telemedicina, distâncias geográficas, desigualdade social e falta de acesso de parte da população a ferramentas tecnológicas.
Mas isso também dá uma envergadura que hoje é o nosso grande diferencial de mercado e fez com que a Portal Telemedicina recebesse tantos reconhecimentos internacionais. Estamos prontos para resolver de forma eficaz qualquer adversidade.
Temos profissionais diferenciados, muito criativos, engajados e com foco na solução dos problemas. Superar adversidades, aliás, é algo que já está na raiz de todo brasileiro.
Já vencemos tantas barreiras que somos capazes de implementar nossa tecnologia em qualquer sistema e localidade, por mais remota que seja.
A pandemia de Covid-19 fez o mundo enxergar a importância do uso da telemedicina e como ela pode ajudar a melhorar os dados de saúde e isso acelerou o mercado de healthcare tech em uma velocidade extraordinária.
Pesquisas mostram que houve mudança de mindset da população em geral e até mesmo dos próprios profissionais de saúde em relação a como a inovação vem para dar suporte à área.
Um robô jamais vai substituir o trabalho e o cuidado de um médico, mas pode auxiliá-lo a ser mais assertivo e aumentar a sua produtividade, além de permitir que ele atenda pacientes localizados em qualquer parte do globo e tenha acesso mais fácil e rápido a especialistas de outras áreas.
Isso fez com que algumas regulamentações fossem liberadas, como por exemplo a teleconsulta, que é aquela que permite que um paciente tenha uma consulta com um médico a distância para situações leves e para monitoramento.
Essa modalidade da telemedicina também contribui com o acesso à saúde porque tem um custo mais baixo e ajuda a desafogar unidades de pronto-atendimento para situações e quadros que podem ser resolvidos sem um contato físico entre médico e paciente.
Embora a telemedicina seja muito relacionada à teleconsulta, essa é apenas uma das frentes que ela abrange. A inteligência artificial na área da saúde pode reduzir distâncias e otimizar o atendimento na área com baixo custo e a uma velocidade capaz de gerar alto impacto já a curto prazo.
Sem contar que na saúde privada ela permite aumento do lucro de clínicas, ao mesmo tempo em que reduz o custo dos pacientes.
Esse tipo de tecnologia está disponível há anos e o trabalho desenvolvido no Brasil é reconhecido internacionalmente. Recentemente, a Portal Telemedicina foi eleita uma das melhores empresas globais provedoras de telemedicina pela revista norte-americana Healthcare Tech Outlook.
E é assim que a telemedicina pode melhorar o acesso à saúde de qualidade, facilitar a comunicação entre médicos, e entre médicos e pacientes. É assim que reduzimos o caminho entre doenças e a cura.
Entre em contato conosco e saiba mais sobre as nossas soluções.
A Portal Telemedicina é uma plataforma de Telediagnóstico e Gestão de Saúde Populacional, que integra diretamente a prontuários e devices, transferindo dados em 26 modalidades para que médicos especialistas possam prover diagnósticos e teleconsultas.
A plataforma utiliza modelos de inteligência artificial, treinados em milhões de exames, para detectar achados e priorizar emergências. Os gestores têm o benefício de obter uma visão global, com integração a sistemas e aparelhos antigos sem a necessidade de substituição, com acesso a painéis gerenciais em uma verdadeira central de comando para a gestão da saúde populacional.
Desde o início da pandemia, a Portal adaptou os algoritmos para detectar o COVID-19 em exames de radiologia com 95% de acurácia e lançou aplicativo de teleconsulta – o SOS Portal – que conecta médicos a pacientes.
Com mais de 30 milhões de pacientes em seu sistema atualmente a empresa oferece acesso a medicina de qualidade para mais de 1.000 unidades de saúde em +350 cidades.
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