Prescrição de enfermagem: Conceito, etapas, fundamentos legais, como fazer e modelos práticos
Atualizado em 11 de dezembro de 2025 por Redação

A prescrição de enfermagem é um componente essencial do Processo de Enfermagem (PE) e um dos principais instrumentos para garantir cuidado qualificado, seguro, contínuo e cientificamente fundamentado. Ela registra, de forma sistematizada, as intervenções planejadas pelo enfermeiro para atender às necessidades de saúde do paciente, sustentando a prática profissional nos pilares técnico-científicos, éticos e legais.
Segundo a Resolução COFEN nº 358/2009, a prescrição de enfermagem compõe a etapa de planejamento do Processo de Enfermagem e deve orientar a implementação das ações de cuidado, prevenção, promoção, proteção, recuperação e reabilitação em saúde.
Uma prescrição bem elaborada:
- expressa o raciocínio clínico do enfermeiro;
- padroniza condutas e reduz variabilidade assistencial;
- melhora a continuidade do cuidado;
- fortalece a defesa legal da equipe;
- contribui para indicadores de segurança do paciente.
O que é prescrição de enfermagem?
A prescrição de enfermagem é o conjunto de intervenções planejadas e registradas pelo enfermeiro, baseadas nos diagnósticos de enfermagem, que direciona a assistência individualizada e contínua.
Ela deve:
- ser individualizada;
- estar alinhada aos diagnósticos de enfermagem;
- responder às necessidades clínicas do paciente;
- conter ações mensuráveis, claras e temporalizadas;
- ser revisada continuamente conforme evolução.
Prescrição de enfermagem dentro do Processo de Enfermagem (PE)
O Processo de Enfermagem é composto por cinco etapas estruturantes:
- Coleta de dados / Histórico de Enfermagem
- Diagnóstico de Enfermagem
- Planejamento de Enfermagem
- Implementação
- Avaliação de Enfermagem
A prescrição se localiza na etapa 3 (planejamento), sendo uma tradução prática das metas e intervenções necessárias para atingir os resultados esperados. Durante a implementação, a equipe executa as intervenções prescritas. Na avaliação, o enfermeiro revisa, ajusta ou suspende ações conforme a evolução do paciente.
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Tipos de prescrição de enfermagem
1. Quanto ao conteúdo
a) Cuidados básicos
- Higiene
- Mudança de decúbito
- Conforto
- Monitorização básica
- Apoio à alimentação e hidratação
b) Cuidados preventivos
- Prevenção de lesão por pressão
- Prevenção de quedas
- Prevenção de complicações respiratórias
- Cuidados para reduzir risco de infecção
c) Cuidados terapêuticos
- Administração de medicamentos
- Curativos
- Oxigenoterapia
- Nebulização
- Suporte clínico e monitorização intensiva
d) Cuidados de reabilitação
- Promoção da mobilidade
- Treino de marcha
- Orientações posturais
- Exercícios supervisionados
2. Quanto ao nível de autonomia
a) Prescrição independente
Ações decididas exclusivamente pelo enfermeiro, com base em julgamento clínico, como:
- mudança de decúbito;
- orientações;
- cuidados de conforto;
- prevenção de riscos.
b) Prescrição dependente
Execução requer ordem médica, mas envolve julgamento clínico de enfermagem para segurança, como:
- administração de medicamentos;
- infusões;
- ajustes monitorizados.
c) Prescrição interdependente
Construída em conjunto com outros profissionais:
- fisioterapia
- nutrição
- farmácia
- equipe médica
- assistência social
Essa classificação é essencial em contextos acadêmicos e de auditoria para análise da autonomia e atribuições profissionais.
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Categoria |
Subtipo | Descrição Objetiva | Exemplos Comuns |
Nível de Autonomia do Enfermeiro |
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Quanto ao Conteúdo |
Cuidados básicos | Intervenções essenciais para conforto, higiene e suporte às necessidades humanas básicas. | Higiene; mudança de decúbito; oferta hídrica; auxílio na alimentação; monitorização simples. |
Independente |
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Quanto ao Conteúdo |
Cuidados preventivos | Ações que evitam complicações, riscos e eventos adversos durante a internação. | Prevenção de LPP; prevenção de quedas; cuidados respiratórios; protocolos de prevenção de infecção. |
Independente |
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Quanto ao Conteúdo |
Cuidados terapêuticos | Intervenções relacionadas ao tratamento e estabilidade clínica do paciente. | Administração de medicamentos; curativos; oxigenoterapia; nebulização; monitorização intensiva. |
Dependente ou interdependente |
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Quanto ao Conteúdo |
Cuidados de reabilitação | Ações para promover independência funcional, mobilidade e recuperação física. | Treino de marcha; exercícios orientados; uso de dispositivos de apoio; orientação postural. |
Independente ou interdependente |
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Quanto à Autonomia |
Prescrição independente | Ações decididas e executadas exclusivamente pelo enfermeiro com base em julgamento clínico. | Mudança de decúbito; orientação de autocuidado; medidas de conforto; prevenção de riscos. |
Independente |
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Quanto à Autonomia |
Prescrição dependente | Exige ordem médica, mas requer julgamento de enfermagem para execução segura e monitorização. | Administração de medicamentos; infusões; terapias prescritas pelo médico. |
Dependente |
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Quanto à Autonomia |
Prescrição interdependente | Ações planejadas em conjunto com equipe multiprofissional, integrando diferentes saberes. | Planos de alta; reabilitação multiprofissional; protocolos clínicos integrados. |
Interdependente |
Como fazer uma prescrição de enfermagem eficaz
Uma prescrição eficaz deve ser:
✔ Clara (sem termos vagos)
✔ Individualizada
✔ Temporalizada (quando, com que frequência, por quanto tempo)
✔ Mensurável
✔ Baseada em evidências
✔ Direcionada aos diagnósticos de enfermagem
Estrutura recomendada (modelo COFEN + literatura científica):
- Verbo de ação
- Intervenção específica
- Parâmetros clínicos associados
- Frequência e horário
- Critérios de suspensão/modificação
- Finalidade ou objetivo clínico (opcional, mas útil cientificamente)
Exemplo acadêmico de prescrição para lesão por pressão
Realizar curativo em lesão sacral utilizando limpeza com soro fisiológico 0,9% em jato e cobertura de espuma de poliuretano. Avaliar diariamente e trocar a cada 72 horas ou antes se saturado, úmido, sujo ou descolado. Registrar aspecto, presença de tecido de granulação/esfacelo, exsudato e dimensões a cada troca.
Esse formato contempla clareza, temporalidade, critérios de troca e parâmetros de monitorização.
Fundamentação ética e legal da prescrição de enfermagem
A prescrição de enfermagem é um ato privativo do enfermeiro, conforme:
- Lei nº 7.498/1986
- Decreto nº 94.406/1987
- Resolução COFEN nº 358/2009
- Resoluções complementares sobre SAE, Processo de Enfermagem e prontuário
Requisitos obrigatórios no prontuário:
- Identificação completa do paciente
- Data e horário do registro
- Intervenções prescritas de forma clara
- Identificação do profissional (nome e COREN)
- Assinatura/carimbo quando em prontuário físico
Faltas de registro configuram falhas ético-legais e fragilizam auditorias e investigações.

Prescrição de medicamentos por enfermeiros: o que a legislação prevê
O enfermeiro pode prescrever medicamentos:
- em programas de saúde pública;
- na Atenção Primária;
- em rotinas institucionalizadas;
- conforme protocolos, diretrizes e normas oficiais.
Fundamentação:
- Lei nº 7.498/1986
- Decreto nº 94.406/1987
- Protocolos do SUS
- Normativas do COFEN e COREN
Limites:
- Não prescrever fora de protocolo;
- Não utilizar medicamentos de uso restrito;
- Sempre registrar adequadamente conforme preconizado.
Prescrição de enfermagem em diferentes cenários assistenciais
Hospital / UTI
- Grande volume de intervenções
- 24h de monitorização
- Integração com prescrição médica
- Ênfase em prevenção de eventos adversos
- Intervenções altamente temporalizadas
Atenção Primária
- Promoção de saúde
- Educação
- Autocuidado
- Protocolos de APS
Home care
- Consideração dos recursos disponíveis
- Adaptação ao contexto familiar
- Prescrições com forte componente educativo
Prescrição eletrônica de enfermagem e telemedicina
A digitalização aprimora:
- rastreabilidade
- padronização
- legibilidade
- segurança do paciente
- integração multiprofissional
Plataformas de telemedicina ampliam a efetividade da prescrição ao:
- disponibilizar resultados de exames em tempo real;
- integrar laudos de imagem e cardiologia;
- permitir ajustes imediatos conforme dados atualizados;
- apoiar triagem e telemonitorização.
Isso fortalece os pilares do Processo de Enfermagem e reduz omissões assistenciais.
Checklist acadêmico para auditoria de prescrição de enfermagem
Antes de finalizar, verifique:
- As intervenções respondem ao diagnóstico de enfermagem?
- Estão descritas com clareza e sem ambiguidade?
- Há horários, frequência e critérios de suspensão?
- Parâmetros de monitorização estão especificados?
- A identificação profissional está completa?
- Houve revisão após mudança do quadro clínico?
Conclusão
A prescrição de enfermagem, quando fundamentada em evidências, alinhada ao Processo de Enfermagem e integrada a sistemas digitais e telemedicina, torna-se um instrumento poderoso para qualificar o cuidado, fortalecer a segurança do paciente e garantir respaldo ético-legal ao enfermeiro.
FAQ (Perguntas Frequentes)
O que é prescrição de enfermagem?
A prescrição de enfermagem é um documento elaborado pelo enfermeiro que reúne todas as intervenções necessárias para atender às necessidades do paciente. Ela é baseada na avaliação clínica, no diagnóstico de enfermagem e nos protocolos institucionais. Sua função é orientar a equipe de enfermagem sobre as ações que devem ser realizadas para garantir segurança, continuidade do cuidado e resultados assistenciais padronizados. É um instrumento essencial para organizar o trabalho, prevenir erros e assegurar qualidade na assistência.
Como fazer prescrição de enfermagem?
Para fazer uma prescrição de enfermagem adequada, o enfermeiro deve começar avaliando o paciente de forma completa, considerando sinais clínicos, queixas, histórico e necessidades imediatas. Em seguida, identifica os diagnósticos de enfermagem correspondentes e define as intervenções apropriadas, sempre baseadas em evidências e nos protocolos da instituição. Depois disso, registra as ações de forma clara e objetiva, indicando como devem ser realizadas, com qual frequência e quais parâmetros devem ser monitorados. Por fim, revisa periodicamente a prescrição e ajusta conforme a evolução do paciente, garantindo que o plano assistencial permaneça atualizado e eficiente.
O que deve constar na prescrição de enfermagem?
Uma prescrição de enfermagem deve incluir orientações completas e detalhadas sobre as intervenções que a equipe deve executar. Ela precisa conter um verbo de ação, a descrição clara da atividade, a frequência com que deve ser realizada e os parâmetros que precisam ser observados durante o cuidado. Também é importante registrar os critérios de suspensão ou ajuste, quando aplicáveis. Além disso, o documento deve estar devidamente datado, assinado e identificado pelo enfermeiro responsável, garantindo rastreabilidade e conformidade com as normas do COFEN e com as práticas de segurança do paciente.



