Qual o principal desafio para o médico do futuro? Profissionais da área da saúde foram convidados a pensar nos rumos que suas profissões deverão tomar nos próximos 10 anos com base no que já sentem no mercado de trabalho no estudo Clínico do Futuro: um relatório de 2022¹ (Clinician of the future: a 2022 report), realizado pela Elsevier Health em parceria com a Ipsos.
A pesquisa quantitativa e qualitativa, por meio de entrevistas e mesas-redondas, reuniu 3 mil médicos e enfermeiros de 100 países diferentes para saber qual sua projeção de mercado acerca de suas profissões.
A maioria cita que o que chamam de “alfabetização tecnológica” será o principal diferencial no mercado nos próximos 10 anos. Mais da metade dos entrevistados (56%) acredita que a maioria das decisões clínicas serão baseadas em Inteligência Artificial.
Separamos neste artigo os principais pontos abordados no estudo, além de alguns dos dados mais curiosos. Boa leitura!
A chegada da Covid-19 acelerou a evolução de ferramentas e tecnologias na área da saúde digital.
Os gargalos existentes no setor no mundo todo, em dimensões diferentes, levou autoridades e profissionais de saúde a terem de contar com ferramentas tecnológicas para garantir atendimento a pacientes, facilitar a comunicação entre médicos de diferentes especialidades e até mesmo para acompanhar e promover ações de prevenção.
Isso provocou um aumento do mercado de health techs e um avanço na questão de regulamentação para o uso da saúde digital.
No Brasil, por exemplo, o uso da teleconsulta e teleorientação foram liberados pelo governo federal em caráter emergencial e, em maio de 2022, a prática da telemedicina foi regulamentada.
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O apuro pela utilização de tecnologias que facilitassem o dia a dia de profissionais e pacientes e que garantissem sua segurança para o atendimento, em um momento com alto risco de contágio, mudou o mindset dos profissionais da área em relação ao uso de ferramentas tecnológicas. O que antes era visto com certas ressalvas passou a fazer parte do dia a dia de forma habitual.
Prova disso, é que no estudo Clínico do Futuro, 70% dos entrevistados disseram acreditar que o uso da tecnologia na saúde permitirá uma transformação positiva na área. E por este motivo, também acreditam que os médicos e profissionais da saúde em geral têm o desafio nos próximos anos de se especializar e dominar essas tecnologias.
Os profissionais, porém, relatam que hoje já se sentem sobrecarregados com o volume de dados que precisam trabalhar e, por isso, é preciso cuidado para que isso não se torne um fardo ainda mais desafiador no futuro.
A grande maioria dos profissionais, 83%, acredita que os treinamentos na área precisam ser revistos para que eles possam acompanhar o avanço e as mudanças.
Na visão dos próprios médicos, o profissional do futuro trabalhará em um sistema digital. A maioria de suas consultas do dia será remota (teleconsulta) e eles usarão softwares que fazem interoperabilidade entre sistemas, para gerenciar a comunicação com os pacientes, armazenar registros e dar suporte na tomada de decisões clínicas.
Eles terão todos os dados que precisam facilmente à disposição e usarão tecnologia com inteligência artificial para ajudá-los a extrair as informações mais relevantes sobre o histórico do paciente. Ou seja, os sistemas digitais os ajudarão a tomar decisões clínicas baseadas em evidências mais atualizadas.
Para 56% dos médicos, a maioria das decisões clínicas será baseada em ferramentas de inteligência artificial.
A quantidade de informação está aumentando de forma muito rápida: o volume de dados criados, capturados, copiados e consumidos globalmente deverá quase dobrar de 97 zettabytes em 2022 para 181 zettabytes em 2025².
A Portal Telemedicina já oferece esse tipo de ferramenta.
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O médico do futuro também deverá estar preparado para atender o paciente do futuro. Você pode estar se perguntando: o que isso quer dizer?
Da mesma forma que a tecnologia está trazendo uma infinidade de recursos para os profissionais da saúde serem ainda mais assertivos em um diagnóstico, a relação dos pacientes com a tecnologia também está permitindo que eles monitorem melhor a própria saúde.
Hoje pacientes estão mais cientes de seus problemas, fazem pesquisas, procuram grupos de pessoas que enfrentam a mesma situação e chegam aos consultórios médicos munidos de muito mais informações do que há uma década. E a tendência é que isso se amplie ainda mais nos próximos 10 anos.
A relação do paciente com o médico tende a ser cada vez mais participativa. Para 86% dos médicos que responderam a pesquisa Clínico do Futuro, o aumento de pacientes informados sobre suas condições de saúde está impulsionando a mudança no setor.
Para melhor atendê-los, 77% dos profissionais dizem esperar ter dados de saúde do paciente em tempo real no futuro para que possam fazer um atendimento cada vez mais personalizado.
O acesso a dados individuais de cada paciente proporcionado com Big Data e Inteligência Artificial será a chave para o crescimento do atendimento médico personalizado.
A relação entre paciente e o médico do futuro acontecerá por meio de diferentes canais, que podem ser tanto digitais quanto presenciais. O ponto importante na visão dos profissionais entrevistados está no tipo de relacionamento, que será menos hierárquico e mais como uma parceria.
O estudo afirma que o médico do futuro é adepto da utilização de dados de saúde para ter insights clínicos avançados e tomar decisões embasadas em informações levantadas pelas ferramentas digitais.
Essa mudança em relação aos cuidados do próprio paciente consigo mesmo gera uma nova visão. Dados de saúde populacional permitirão uma virada de chave importante que é passar a cuidar da saúde de forma preventiva.
A maioria dos médicos acredita que nos próximos 10 anos aumentará consideravelmente o número de pacientes que procuram por check-ups.
Veja de que forma a tecnologia já tem ajudado na gestão de saúde populacional.
O médico do futuro e todos os profissionais envolvidos com o desenvolvimento e aplicação da saúde digital, assim como autoridades públicas também têm outro desafio importante: estabelecer políticas públicas e ações que contribuam para um acesso mais igualitário à saúde mesmo com a aplicação da tecnologia.
Mais da metade dos profissionais, 64%, acredita que as desigualdades em saúde irão aumentar conforme o avanço das tecnologias da saúde digital.
Para eles, as políticas governamentais têm forte peso no impulsionamento das mudanças na saúde. Eles citam que a falta de acesso à internet e o analfabetismo como exemplos de situações que possam aumentar essa disparidade.
Dados do Center for Disease Control and Prevention (CDC) mostram que em lugares onde as pessoas têm maior conhecimento sobre saúde, o número de pacientes vacinados contra a gripe é 31% maior, há 26% menos hospitalizações evitáveis, assim como 18% menos visitas a emergências³.
Os profissionais também alertam para a necessidade da criação de equipes multidisciplinares para dar apoio aos médicos, com analistas de dados e especialistas em segurança de dados para auxiliar em todo o processo.
A maioria dos médicos dos diferentes países aponta os mesmos prováveis problemas como principais assuntos que terão de ser tratados na próxima década:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que o número de pessoas acima de 60 anos no mundo aumentará de 11% para 22% entre 2015 e 2050⁴.
Essa pergunta tem sido uma preocupação geral dos profissionais da saúde. Embora se pense em teleconsulta como uma prática do médico do futuro, ela já faz parte do dia a dia de boa parte dos profissionais do presente.
E com base na própria experiência, eles se dizem preocupados em como manter a capacidade de demonstrar empatia com os pacientes através das câmeras no atendimento à distância.
Eles, inclusive, apontam que treinamentos para isso serão de fundamental importância para saberem como aplicar suas soft skills, ou seja, habilidades como empatia, comunicação, entre outras habilidades comportamentais, para o atendimento remoto.
Quando o assunto é a principal preocupação que o médico do futuro enfrentará, 74% citaram a escassez de enfermeiros e 68% a falta de médicos que o mundo terá em 10 anos.
A maior parte dos profissionais entrevistados se preocupam que ações sejam tomadas para que se tenha aumento do número de trabalhadores na área na próxima década e que isso deve ser olhado como uma prioridade.
Essa escassez de especialistas já é uma realidade acompanhada hoje em muitos lugares. Mesmo países desenvolvidos e onde há um número de médicos por mil habitantes considerado dentro do ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS) enfrentam problemas com distribuição desigual de profissionais entre as regiões.
Ou seja, a maioria dos profissionais estão concentrados nos grandes centros e as regiões mais distantes, como áreas rurais e municípios no interior, sofrem com a falta de especialistas.
Esse baixo número é maior em algumas especialidades, o que pode variar de um lugar para outro. No Brasil, por exemplo, durante a pandemia, se viu um gargalo no número de médicos intensivistas, o que dificultou e, em alguns casos, até mesmo impediu a abertura de novos leitos de UTI em algumas regiões durante o auge da pandemia de Covid-19.
Ainda pegando o exemplo do Brasil, de acordo com a Pesquisa Demográfica Médica 2020⁵, feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mais da metade dos profissionais do país (53%) estão concentrados na região Sudeste, que abrange apenas quatro Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais). Eles atendem 42% da população brasileira.
Enquanto a região Sudeste tem 3,15 médicos a cada mil habitantes, a região Norte, por exemplo, tem 1,30, e Nordeste 1,69.
Dados de 2013-2019 da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o número de médicos por 10 mil habitantes era 10 vezes maior em comparação com a África subsaariana⁶.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o mundo precisa de mais 18 milhões de trabalhadores de saúde para alcançar a saúde universal até 2030 e mais 9 milhões de enfermeiros e parteiras para cumprir as metas de Objetivo de Desenvolvimento, ou seja, para que o serviço médico esteja disponível a todos, independentemente de sua classe social⁷.
O estudo Clínico do Futuro é importante para se mapear as necessidades e visões dos próprios médicos para um assunto de interesse geral, que é a melhora da saúde da população como um todo.
Um dos principais insights que se pode tirar desse levantamento é que os problemas e desafios enfrentados na área são globais, apenas mudam um pouco de perfil e intensidade de acordo com a característica de cada país. Mas mesmo os mais desenvolvidos enfrentam problemas de escassez e má distribuição geográfica desses profissionais.
Nos últimos anos se viu um avanço muito rápido na saúde digital e daqui a 10 anos se verá ainda mais. Aqueles profissionais que se qualificarem desde já e passarem a usar as ferramentas com inteligência artificial disponíveis como suporte ao seu atendimento certamente serão os que se destacarão no mercado, que terá uma carência grande a suprir destes profissionais.
A Portal Telemedicina tem reconhecimentos internacionais pela sua inovação na área da saúde e desenvolvimento de ferramentas com uso de inteligência artificial, que já têm dado suporte para médicos, clínicas, hospitais e profissionais da enfermagem potencializarem o seu trabalho.
Fale com um de nossos consultores e saiba como a tecnologia pode auxiliar no seu dia a dia profissional e preparar profissionais de saúde para o que o futuro aguarda.
¹Clínico do Futuro: um relatório de 2022
² 0 Statista. Volume of data/information created, captured, copied, and consumed worldwide from 2010 to 2025. June 2021. https://www.statista.com/ statistics/871513/worldwide-data-created/
³UnitedHealth Group. Improving Health Literacy Could Prevent Nearly 1 Million Hospital Visits and Save Over $25 Billion a Year. October 2020. https://www.unitedhealthgroup.com/content/dam/UHG/PDF/About/Health-Literacy-Brief.pdf
⁴ World Health Organization (WHO). Ageing and health. 4 October 2021. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/ageing-and-health
⁵ Demografia Médica 2020
https://www.fm.usp.br/fmusp/conteudo/DemografiaMedica2020_9DEZ.pdf
⁶ World Health Organization (WHO). Medical doctors (per 10 000 population). https://www.who.int/data/gho/data/indicators/indicator-details/GHO/medical-doctors-(per-10-000-population)
⁷ United Nations Statistics Division (UNSD). Sustainable Development Goal 3 report 2021. https://unstats.un.org/sdgs/report/2021/goal-03/
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