Gestão de Clínicas e Hospitais

Riscos ocupacionais: O que são, como identificar e gerenciar os principais perigos no ambiente de trabalho

11 min. de leitura

Riscos ocupacionais são todas as condições presentes no ambiente de trabalho que podem causar acidentes, adoecimento ou impactos à saúde física e mental. Eles vão desde ruído e produtos químicos até fatores organizacionais como metas excessivas, conflito interpessoal e sobrecarga emocional.

Conhecer esses riscos não é apenas obrigação legal — é o primeiro passo para um ambiente mais seguro, produtivo e com menos passivos trabalhistas e previdenciários.
Para as empresas, significa menos acidentes, menos absenteísmo e menos multas.
Para os trabalhadores, significa proteção real e melhora na qualidade de vida.

A seguir, você encontra a explicação mais completa e atualizada, incluindo NR-1, GRO/PGR, NR-17 e eSocial S-2240.

O que são riscos ocupacionais?

Riscos ocupacionais são exposições que podem gerar dano à saúde.
Do ponto de vista técnico, são avaliados como:

  • Perigo → a fonte do dano
  • Risco → probabilidade × severidade

Exemplo: A máquina sem proteção é o perigo.
A chance de o operador encostar e ter lesão é o risco.

No Brasil, a NR-1 determina que toda empresa mantenha um PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) onde esses riscos devem ser:

  1. Identificados
  2. Avaliados
  3. Controlados
  4. Monitorados
  5. Documentados
  6. Integrados ao PCMSO e ao eSocial S-2240

Leia mais: Tudo sobre segurança do trabalho

 

Classificação dos riscos por cores (Mapa de Riscos)

O Mapa de Riscos usa cores para facilitar a identificação visual:

Cor

Tipo de risco

Verde

Riscos físicos

Vermelho

Riscos químicos

Marrom

Riscos biológicos

Amarelo

Riscos ergonômicos

Azul

Riscos mecânicos / de acidentes

Embora o Mapa de Riscos não seja mais obrigatório, a taxonomia continua amplamente usada e facilita a comunicação com trabalhadores e equipes de SST.

Quais são os tipos de riscos ocupacionais?

1. Riscos físicos (Verde)

São energias que podem causar dano:

  • Ruído
  • Vibração
  • Calor / Frio
  • Radiações ionizantes e não ionizantes
  • Pressões anormais
  • Umidade

Exemplo prático: operador de máquinas exposto a ruído contínuo acima de 85 dB(A).

Como avaliar: medições conforme NHO/Fundacentro.

2. Riscos químicos (Vermelho)

Substâncias ou compostos que podem causar intoxicação, irritação ou efeitos sistêmicos:

  • Poeiras (sílica, madeira, grãos)
  • Fumos metálicos
  • Névoas e neblinas
  • Gases
  • Vapores orgânicos e solventes

Avaliação: Considerar tipo, concentração, via de exposição (inalação, pele, ingestão) e tempo de exposição.

3. Riscos biológicos (Marrom)

Agentes vivos ou seus derivados:

  • Vírus
  • Bactérias
  • Fungos
  • Protozoários
  • Parasitas
  • Sangue e fluidos biológicos

Exemplos: Enfermagem, laboratório, limpeza hospitalar, odontologia.

4. Riscos ergonômicos (Amarelo)

Relacionados a organização do trabalho, biomecânica e demandas cognitivas:

  • Posturas forçadas
  • Movimentos repetitivos
  • Força excessiva
  • Ritmo acelerado
  • Carga mental
  • Trabalho noturno
  • Falta de autonomia
  • Falhas de comunicação

São as causas mais frequentes de afastamento pelo INSS (LER/DORT e transtornos mentais).

5. Riscos Mecânicos / de Acidentes (Azul)

Situações que aumentam a probabilidade de acidentes:

  • Pisos irregulares
  • Quedas de altura
  • Choques elétricos
  • Corte / esmagamento / perfuração
  • Veículos e empilhadeiras
  • Máquinas sem proteção
  • Energias perigosas

6. Riscos psicossociais: agora obrigatórios no PGR (NR-1 + integração NR-17)

Desde a atualização da NR-1, toda empresa é obrigada a identificar e controlar fatores psicossociais.

Eles incluem:

  • Metas inalcançáveis
  • Sobrecarga
  • Falta de apoio da liderança
  • Conflitos interpessoais
  • Assédio
  • Baixa autonomia
  • Ambiente emocionalmente hostil

Importante: Não é diagnóstico individual — é avaliação organizacional.

Por que é importante conhecer os riscos ocupacionais?

Para empresas:

  • Reduz acidentes e afastamentos
  • Melhora produtividade
  • Evita multas do MTE
  • Reduz ações trabalhistas
  • Evita inconsistências no eSocial

Para trabalhadores:

  • Segurança
  • Saúde preservada
  • Menos desgaste físico e mental

Para o país:

  • Menos custos previdenciários
  • Melhores ambientes de trabalho

Como identificar riscos ocupacionais

1. Levantamento inicial no “gemba” (local real de trabalho)

Observe:

  • Tarefas
  • Materiais
  • Máquinas
  • Jornada
  • Pessoas
  • Fluxos

Use fotos, vídeos e anotações.

2. Descrição das exposições

Para cada tarefa, responda:

  • A quê está exposto?
  • Por quanto tempo?
  • Em qual intensidade?
  • Com qual frequência?
  • Com EPI funciona ou não?

3. Evidências técnicas

  • Medições (ruído, vibração, poeira etc.)
  • FISPQ
  • Registros de acidentes
  • Ocorrências internas
  • AEP/AET (ergonomia)

4. Identificação dos riscos psicossociais

Use indicadores como:

  • Rotatividade
  • Afastamentos (CID F)
  • Metas e cargas de trabalho
  • Organização de turnos
  • Pesquisas internas

Confira: Normas de segurança do trabalho

Avaliação do risco: qualitativa e semi-quantitativa

Modelos aceitos:

  • 5×5 (AIHA)
  • 3×5 (BS 8800)

Multiplique: probabilidade × severidade

Classifique:

  • Baixo
  • Moderado
  • Alto
  • Intolerável

Registre também:

  • Incertezas
  • Fontes dos dados
  • Critérios utilizados

Hierarquia de controles: o que realmente funciona

  1. Eliminar o perigo
  2. Substituir por alternativa menos nociva
  3. Controles de engenharia (EPC)
  4. Administrativos (procedimentos, treinamentos, pausas, rodízio)
  5. EPI (última barreira)

Sempre justificar no PGR por que não foi possível eliminar/substituir.

Fechamento com PCMSO: como integrar

Do inventário do PGR surgem:

  • Exames ocupacionais
  • Vigilância clínica
  • Ações educativas
  • Indicadores de saúde
  • ASO coerentes

Se há risco psicossocial → integração com ergonomia e ações organizacionais.

eSocial S-2240: coerência que evita multa

O evento exige, por vínculo:

  • Fator de risco
  • Tipo de avaliação
  • Método (NHO/Fundacentro etc.)
  • Intensidade ou concentração
  • Jornada
  • Habitualidade
  • Eficácia de EPI/EPC
  • Enquadramento ou não para aposentadoria especial

Erros entre PGR × LTCAT × S-2240 geram autuações.

Exemplos de riscos por setor (com controles recomendados)

Saúde

  • Biológicos (biossegurança, vacinação)
  • Ergonomia (manuseio de pacientes)
  • Psicossociais (plantões, conflito, luto)
  • Químicos (desinfetantes)
  • Acidentes (perfurocortantes)

Construção

  • Quedas (NR-35)
  • Eletricidade
  • Ruído e vibração
  • Sílica
  • Condições climáticas

Indústria

  • Máquinas (NR-12)
  • Poeiras e solventes
  • Ruído
  • Ergonomia de linha
  • Psicossociais de turnos e ritmo

Logística

  • Movimentação manual
  • Trânsito interno
  • Ruído
  • Calor
  • Carga mental de rotas

Indicadores e auditoria de riscos

Avalie:

  • % de ações do PGR concluídas
  • TTR (tempo para eliminar risco crítico)
  • Taxa de incidentes
  • Indicadores do PCMSO
  • Conformidade S-2240
  • Adesão a EPI/EPC

Erros comuns (e como evitar)

  • PGR genérico
  • Falta de fotos/medições
  • Matriz sem critérios
  • Riscos psicossociais omitidos
  • Desalinhamento com S-2240

Checklist de implantação em 90 dias

Semana 1–2: Levantamento + fotos + medições
Semana 3–5: Matriz e plano 5W2H
Semana 6–8: Integração com PCMSO e S-2240
Semana 9–12: Auditoria + indicadores

Conclusão

A gestão de riscos ocupacionais deixou de ser apenas uma obrigação legal para se tornar um pilar estratégico da saúde corporativa. Empresas que conhecem e controlam seus riscos reduzem acidentes, afastamentos, passivos trabalhistas, inconsistências no eSocial e custos previdenciários. Para os trabalhadores, esse processo significa ambientes mais seguros, previsíveis e saudáveis — física e mentalmente.

Quando bem implementada, a gestão de riscos não apenas evita multas: ela transforma a cultura de segurança, aumenta a produtividade, fortalece o clima organizacional e melhora a saúde integral dos trabalhadores. É o passo mais importante para que empresas avancem para níveis mais elevados de governança e cuidado — e para que cada profissional volte para casa com segurança ao final do dia.

Perguntas Frequentes (FAQ)

 

O que são riscos ocupacionais?

Riscos ocupacionais são quaisquer fatores ou condições presentes no ambiente de trabalho que podem causar danos à saúde física ou mental do trabalhador. Eles incluem desde agentes ambientais, como ruído e produtos químicos, até aspectos organizacionais, como ritmo excessivo ou má ergonomia. Esses riscos podem resultar em acidentes, adoecimento, queda de produtividade e afastamentos. Por isso, identificar, avaliar e gerenciá-los é uma exigência central do PGR e também essencial para o envio correto das informações ao eSocial, especialmente o evento S-2240.

Como são classificados os riscos ocupacionais?

No Brasil, os riscos ocupacionais são tradicionalmente agrupados em cinco categorias: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Cada grupo costuma ser representado por uma cor — verde, vermelho, marrom, amarelo e azul, respectivamente — o que facilita a comunicação e a visualização dos perigos no ambiente de trabalho. Essa classificação por cores não é uma obrigatoriedade legal, mas tornou-se um padrão amplamente utilizado por profissionais de SST para organizar informações e apoiar treinamentos.

Como prevenir os riscos ocupacionais?

A prevenção de riscos ocupacionais deve seguir a Hierarquia de Controles, priorizando intervenções que eliminem ou reduzam o perigo na fonte antes de recorrer ao uso de EPIs. Isso envolve eliminar processos perigosos quando possível, substituir substâncias nocivas por opções mais seguras, implementar medidas de engenharia que isolem ou contenham o risco, reorganizar rotinas e fluxos de trabalho, oferecer treinamentos adequados e, por último, utilizar equipamentos de proteção individual como barreira final. Uma gestão eficaz integra essas medidas ao PGR, ao PCMSO e a outros documentos como LTCAT, garantindo que o monitoramento da saúde e as ações de prevenção estejam alinhados.

Como o Ministério do Trabalho classifica os riscos ocupacionais?

O Ministério do Trabalho, por meio das Normas Regulamentadoras, organiza os riscos principalmente de acordo com sua natureza, e não pelo sistema de cores popularizado na área de SST. Assim, os riscos são reconhecidos oficialmente como físicos, químicos, biológicos, ergonômicos ou de acidentes, dependendo da norma analisada. Essa classificação está presente em documentos como NR-1, NR-9, NR-15, NR-17 e NR-32. O sistema de cores é amplamente aceito e útil, mas é uma convenção técnica, não uma exigência legal.

Qual NR fala sobre os riscos ocupacionais?

A norma que estabelece as diretrizes gerais sobre riscos ocupacionais é a NR-1, que institui o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e determina a elaboração do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). É nela que se define como os riscos devem ser identificados, avaliados e controlados. Outras normas complementam essas diretrizes, como a NR-9, que trata da avaliação de agentes ambientais; a NR-15, que aborda limites de tolerância e insalubridade; a NR-17, que trata de ergonomia; e a NR-32, voltada ao setor da saúde e aos riscos biológicos. Juntas, elas compõem o arcabouço técnico para a gestão de riscos no país.

Redação

Redação é o time de especialistas em conteúdo da Portal Telemedicina, responsável por criar e compartilhar informações atualizadas e relevantes sobre tecnologia em saúde, telemedicina e inovações no setor.

Conteúdos recentes

Teleoftalmologia: O que é, como funciona e por que está transformando o cuidado ocular digital

A teleoftalmologia tem se consolidado como uma das áreas mais relevantes da telemedicina moderna. Ela…

27 de novembro de 2025

Teleassistência: o que é, como funciona e quando usar no cuidado remoto

A teleassistência é uma modalidade da telessaúde voltada ao cuidado clínico contínuo do paciente a…

26 de novembro de 2025

EPI hospitalar: Os 10 itens indispensáveis para segurança na assistência

O EPI hospitalar é a última barreira de proteção entre o profissional de saúde e…

25 de novembro de 2025

Protocolos clínicos em telemedicina: Como padronizar, auditar e alcançar segurança assistencial

 Os protocolos clínicos em telemedicina são a base para transformar o atendimento remoto em…

24 de novembro de 2025

O impacto da inteligência artificial no diagnóstico médico: Segurança, eficiência e o futuro da prática clínica

A inteligência artificial (IA) está transformando o diagnóstico médico ao aumentar precisão, acelerar etapas críticas…

21 de novembro de 2025

Vectoeletronistagmografia (VENG): o que é, para que serve e como o exame auxilia no diagnóstico das vertigens

A vectoeletronistagmografia (VENG) é um exame otoneurológico que registra os movimentos oculares para avaliar o…

19 de novembro de 2025