Aplicativos monitoram sinais vitais e emitem diagnósticos simples, profissionais da saúde têm amplo acesso a dados sobre o estado físico dos pacientes, que já conseguem saber quais doenças terão ao longo da vida e podem tratá-las de acordo com as especificidades dos seus genes. Tudo de forma rápida e certeira.
Ainda que pareçam mais perto da ficção científica do que da realidade, as previsões sobre a medicina do futuro não ficam apenas no papel. Muitas soluções são aplicadas e outras tantas têm base em pesquisas já existentes.
A medicina do futuro pode ser conceituada como uma evolução do conhecimento médico juntamente com o desenvolvimento e domínio das tecnologias de ponta. Está inserida dentro do contexto de e-Health, que reúne as inovações em diferentes segmentos da saúde.
São várias frentes nessa nova medicina, que auxiliam os pesquisadores e os profissionais da saúde a:
Para garantir melhor especificidade, precisão e sensibilidade dos produtos, as tecnologias em saúde – equipamentos, procedimentos e medicamentos – devem estar sempre em evolução e sendo constantemente investigadas antes de validadas e aplicadas nos pacientes.
A telemedicina já é utilizada em todo mundo, de forma segura e legalizada, estando de acordo com as normas médicas internacionais. É um processo avançado para monitoramento de pacientes, troca de informações e análise de resultados de diferentes exames. As atividades da telemedicina facilitam o acesso a especialistas, ampliando a assistência ao paciente, principalmente em áreas remotas.
Seu ponto forte atualmente é a emissão de laudos à distância. Por meio de uma plataforma online, o exame pode ser realizado em clínicas, consultórios ou hospitais de qualquer cidade e laudado por renomados especialistas, via internet. Os exames são avaliados e entregues de forma digital, dando apoio para a medicina tradicional. O laudo online pode ser feito para várias especialidades médicas, em exames como ECG, EEG, mamografia, Raio-X, tomografia, entre outros.
A telemedicina também pode ser aplicada em teleconsultas feitas entre médicos, quando um clínico geral busca assistência de um especialista, como uma segunda opinião no diagnóstico, um medicamento mais indicado ou até mesmo orientações ao vivo sobre a realização de um procedimento. A consulta online, feita diretamente entre médicos e pacientes, já é realizada em alguns países, mas no Brasil, a prática ainda está sendo viabilizada.
A Inteligência Artificial (IA) é uma parte da ciência da computação que desenvolve dispositivos e estruturas capazes de simular algumas características humanas. Notadamente relacionada à inteligência, esses protótipos são capazes de executar funções cognitivas tais como mensurar, executar, tomar decisões e resolver problemas. Isso é feito por redes neurais artificiais para o aprendizado das máquinas (machine learning).
O Watson, algoritmo desenvolvido pela IBM, por exemplo, é uma realidade para ajudar no tratamento do câncer. A ferramenta utiliza a tecnologia cognitiva (forma mais avançada de Inteligência Artificial) e baseado em evidências, na literatura científica e nos dados clínicos e genéticos do paciente, indica possíveis tratamentos. O computador não diz qual é o melhor, mas traz todos os tratamentos oncológicos para o caso e suas evidências científicas, inclusive com grau de risco e efeitos colaterais. Podemos perceber então, que a Inteligência Artificial não está tomando a decisão, mas embasando o médico para que a melhor escolha seja feita.
Do inglês, Internet of Things (IoT), a Internet das Coisas também está muito presente no mundo da saúde. A IoT possibilita a integração de uma grande variedade de dispositivos médicos a rede de comunicação para a troca e coleta de informações. Aplicativos móveis, por exemplo, podem se conectar a dispositivos diversos, como smartwatches (relógios inteligentes), para obter e relacionar dados sobre o nosso corpo em busca de insights médicos.
Na telemedicina, as soluções de IoT são aplicadas para conectar aparelhos analógicos à plataforma e enviar os exames diretamente, sem precisar de digitalizações os uploads manuais. Já o bisturi inteligente iKnife permite que cirurgiões busquem um tecido comprometido enquanto operam, possibilitando, por exemplo, a retirada precisa de um tumor. Com o bisturi, o tecido é cauterizado durante a cirurgia e a fumaça que emerge é coletada e enviada para um espectrômetro, que faz a análise química. A partir da composição da fumaça, o aparelho pode deduzir, em questão de segundos, se o tecido era canceroso ou saudável.
Para os pacientes portadores de doenças crônicas, que necessitam de monitoramento contínuo para prevenir complicações clínicas, esta facilidade pode salvar vidas. Com a ajuda da IoT e dispositivos integrados, é possível medir a pressão arterial, nível de oxigenação, batimentos cardíacos e outros indicadores que são descarregados em aplicativos para serem analisados pelos profissionais de saúde.
O prontuário eletrônico é uma ferramenta responsável por conciliar todas as informações sobre o estado clínico do paciente, otimizando o atendimento. Com ele, é possível armazenar informações sobre a história clínica, medicamentos utilizados e procedimentos realizados, que estarão disponíveis para consulta de evolução do prognóstico. Além disso, para facilitar o gerenciamento interno de informações, existem softwares de prontuário eletrônico que fornecem dados como número de consultas realizadas, agenda de pacientes, custos dos procedimentos ambulatoriais, entre outros.
Para organizar e compactar esses registros, já é utilizado também o armazenamento na nuvem. Assim estes dados podem ser acessados em qualquer lugar do mundo e em qualquer horário, inclusive por dispositivos móveis.
Os robôs avançados são capazes de realizar uma cirurgia com bastante precisão. A cirurgia robótica assistida – os robôs ainda não podem atuar sozinhos – também aumenta a habilidade do cirurgião e permite procedimentos menos invasivos.
Em um primeiro estudo realizado em 2011, com oito pacientes que se submeteram a uma angioplastia feita por robôs, mostrou que não houve intercorrências e a performance desse procedimento foi igual ou melhor aos procedimentos realizados tradicionalmente pelos profissionais de saúde. A acurácia e segurança dos procedimentos foi de 97,9% no primeiro grupo e 97,7% no segundo grupo. Novas pesquisas comprovam a eficiência da cirurgia robótica e como ela permite procedimentos menos invasivos e com menor tempo de recuperação.
Impressoras 3D podem fabricar equipamentos médicos, próteses, ou até mesmo medicamentos. Estas impressoras também irão desempenhar um papel vital na medicina regenerativa, para criar tecidos com vasos sanguíneos, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem da orelha, pele sintética e até mesmo órgãos.
As cidades inteligentes estão sendo idealizadas tecnologicamente com o objetivo de gerar serviços de utilidade pública, como distribuição de eletricidade, iluminação e segurança pública, e serviços essenciais de abastecimento de água e gás. É a integração dos serviços essenciais de uma cidade, via comunicação digital, que gera dados importantes ao controle do gestor.
Utilizando essa metodologia, também é possível o intercâmbio de informações médicas entre cidades diferentes. Assim, quando o paciente realizar um exame em uma cidade, este será encaminhado ao seu médico em tempo real em outra cidade, que definirá a conduta terapêutica antes mesmo de seu retorno ao consultório.
A farmacogenômica pode ser aplicada na medicina do futuro, ajudando na resposta mais precisa dos tratamentos indicados. Nesta área, é estudada a genética de cada indivíduo e como cada pessoa responde aos medicamentos.
Já se sabe, por exemplo, que pacientes com alterações genéticas nas enzimas hepáticas podem apresentar efeitos tóxicos mesmo nas dosagens usuais dos medicamentos, e que os anticoagulantes, alguns antidepressivos e medicamentos anti-rejeição de transplante possuem recomendações para análise dos genes antes de determinar a dosagem correta para cada paciente.
Por isso, grande promessa da farmacogenômica é caracterizar o paciente quanto a composição dos seus genes para garantir a dosagem mais apropriada do medicamento. Alguns podem ser ingeridos a cada duas semanas ou injetados debaixo da pele, por meio de um chip – técnica já praticada com hormônios. Os efeitos colaterais serão reduzidos, e o tratamento será mais eficaz.
Como os estudos para caracterização genética dos pacientes são realizados apenas em laboratório de pesquisa, o desafio é fazer com que o método laboratorial tenha melhor relação custo/benefício para os gestores em saúde e também para os pacientes. Mas, cada vez mais, a análise de DNA vai se tornar uma etapa padrão antes da prescrição de medicamentos ou de tratamentos. Isso irá garantir que as prescrições médicas sejam personalizadas e otimizadas ao metabolismo de cada paciente.
Uma relação mais próxima e humana entre médico e paciente: é isto que se espera obter com a inclusão das novas tecnologias na medicina. Elas podem ajudar os médicos a se concentrarem mais no paciente e menos em coletar dados e informações.
A medicina do futuro será preventiva e terapêutica. Os cuidados não serão mais focados na enfermidades e, sim, em descobrir as doenças antes que elas aconteçam, focando na qualidade de vida do paciente. Com exames e diagnósticos cada vez mais precisos, os médicos podem se antecipar: pelas predisposições genéticas, pode-se saber, por exemplo, do risco prévio de uma doença do coração. Inicia-se então um tratamento prévio, inclusive dos fatores de influência – hipertensão, diabetes, obesidade – antecipando-se à cardiopatia e tendo mais tempo hábil para a cura.
Como vimos, as mudanças trazidas pela medicina do futuro devem reinventar a profissão de médico, empoderar os pacientes, aproximar a relação entre os dois e mudar a forma como as pessoas cuidam da saúde e encaram o corpo e sua longevidade.
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