Telemedicina

Pesquisa mostra que médicos estão abertos à prática do telediagnóstico

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Os profissionais da área da saúde no Brasil acreditam no telediagnóstico como algo revolucionário, principalmente para garantir atendimento especializado a pessoas que residem em comunidades isoladas geograficamente ou sem acesso a médicos. Porém, ainda têm alguns receios e inseguranças a respeito desta prática.

Isso é o que mostra a Pesquisa sobre a adoção do Telediagnóstico no Brasil, realizada pela Skema Business School, uma das mais conceituadas instituições de ensino em negócios de origem francesa que também conta com unidades na China, Estados Unidos e Brasil.

O estudo consultou médicos, enfermeiros e outros profissionais que também atuam na área da saúde mas no contato indireto com os pacientes, como empresários, engenheiros e farmacêuticos, para colher opiniões sobre a prática do telediagnóstico.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) define telediagnóstico como o ato médico a distância, geográfica e/ou temporal, com a transmissão de gráficos, imagens e dados para emissão de laudo ou parecer por médico com Registro de Qualificação de Especialista (RQE) na área relacionada ao procedimento.

O objetivo da pesquisa foi entender o que está por trás da resistência a esta inovação e a adoção dela pela classe médica e pelos profissionais da área da saúde como um todo no Brasil.

O trabalho foi realizado por Marcos Lima, PhD, professor da SKEMA Business School e coordenado por Roberto Abramovich, consultor internacional em inovação e professor da Skema Business School em Paris.

Confira a seguir as principais descobertas e considerações deste estudo.

Pesquisa Telediagnóstico: Brasil já superou o estágio inicial da mudança

A discussão gerada na área médica após o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicar, em fevereiro de 2019, uma nova resolução da Telemedicina (número 2227/18) mostrou uma aparente resistência da classe às mudanças.

Mesmo após ter realizado dois anos de consulta em todo o país, o CFM recebeu alto volume de pedidos, revisões e sugestões de alterações no documento por parte dos Conselhos Regionais de Medicina. Isso levou o órgão a revogar a publicação e optar por ampliar ainda mais a discussão sobre alguns pontos antes de validá-la.

A partir disso, presumia-se que a Pesquisa sobre a adoção do Telediagnóstico no Brasil encontraria certa resistência por parte dos profissionais quanto a utilização do telediagnóstico, mas o resultado surpreendeu: a maior parte dos entrevistados se mostrou receptiva às mudanças.

Porém, apesar de compreenderem os pontos positivos desta tecnologia, os profissionais mostraram ressalvas e inseguranças em relação a adoção do telediagnóstico. Por isso, boa parte ainda está passando pelo processo de decisão quanto a aderir ou não a esta prática.

Leia também: Médico do futuro: alfabetização tecnológica é o principal desafio da área 

O estudo considera cinco etapas no processo adoção de uma inovação: Conhecimento – Persuasão – Decisão – Implementação – Confirmação

Ainda de acordo com a pesquisa, o primeiro estágio, do conhecimento, ocorre quando uma tecnologia foi introduzida recentemente e não há informações suficientes sobre seus usos, limites e perigos. A partir disso, as partes interessadas geralmente iniciam um processo de persuadir os tomadores de decisão e influenciadores a adotarem essa tecnologia (estágio de persuasão).

À medida que mais e mais atores decidem tentar adotar a tecnologia (estágio 3), os dados sobre os resultados da implementação começam a surgir. Com base nessas experiências iniciais, tem início a etapa de confirmação, que pode ocorrer na forma de adoção ativa ou rejeição.

Os profissionais da área da saúde no Brasil já passaram pelos estágios de persuasão e resistência ativa ao uso do telediagnóstico e se encontram atualmente nas etapas 3, 4 e 5. Prova disso é que 61% dos entrevistados disseram já ter utilizado esta tecnologia.

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Como foi feita a pesquisa

O levantamento sobre a adoção do telediagnóstico no Brasil consistiu em um questionário online enviado para contatos do banco de dados da Portal Telemedicina. Foram recebidas 99 respostas válidas.

Os entrevistados responderam usando escalas de 1 a 5, sendo 1 “Discordo Completamente” e 5 “Concordo Completamente”.

As perguntas eram relacionadas às nove Barreiras Funcionais e as oito Barreiras Psicológicas que fazem parte das fontes de resistência ativa à inovação de acordo com o modelo de Resistência à Inovação dos autores Talke e Heindenreich (2014).

Eles partem do pressuposto de que todo o ser humano é naturalmente resistente às mudanças e tende a buscar a estabilidade e temer o que é desconhecido. Assim, muitas propostas inovadoras são rejeitadas antes mesmo de serem racionalmente consideradas devido a ideias pré-concebidas sobre algo.

Eles chamam isso de viés pró-mudança e destacam que ele só pode ser superado a partir do conhecimento sobre as barreiras psicológicas e funcionais por trás desta resistência.

Complexidade e questões de segurança estão entre os maiores receios

Entre os receios apontados pelos profissionais em relação a implementação do telediagnóstico foram identificadas, principalmente, três barreiras funcionais citadas no Modelo de Resistência à Inovação: complexidade, codependência e compatibilidade.

As barreiras de complexidade ocorrem, segundo os autores usados como referência, quando uma inovação é percebida como difícil, complexa de se entender e utilizar. Já as de codependência surgem com o entendimento de que o produto depende muito de outros produtos, aparelhos ou sistemas para funcionar de forma completa.

A outra barreira identificada no levantamento, de compatibilidade, ocorre quando o consumidor nota que a inovação é incompatível com produtos que já existem ou foram usados no passado.

No estudo também foram identificadas barreiras psicológicas referentes ao receio do risco pessoal, que acontece quando há temor de que uma inovação traga riscos e possa causar danos ao usuário ou a seus bens, e a respeito de como o uso do telediagnóstico refletirá na sua imagem pública.

A alteridade de informações sobre telediagnóstico também gera outra barreira quanto a implantação desta tecnologia, que é o receio de ter consequências indesejadas com a adoção deste método.

Outro ponto citado pelos entrevistados que merece atenção especial é a preocupação com a segurança das informações na transmissão e armazenamento de dados com a prática do telediagnóstico.

Percepções em destaque com o estudo

  • Os profissionais de medicina se mostraram mais resistentes quanto ao uso do telediagnóstico em relação aos outros profissionais da área, que trabalham indiretamente com esta tecnologia;
  • A comunidade de saúde não mostrou apreensão quanto a questões relacionadas a possível quebra de normas e valores em relação ao telediagnóstico. Apesar da nova resolução da telemedicina ainda estar em debate, isso pode estar associado ao fato de existir um código de ética para o uso da telemedicina desde 2002;
  • As principais barreiras funcionais para a adoção desta inovação no país são: complexidade, codependência e compatibilidade;
  • As principais barreiras psicológicas são: imagem pública, risco pessoal e assimetria de informações sobre o assunto;
  • Profissionais entrevistados mostraram temor em relação à segurança das informações repassadas por meio do telediagnóstico;
  • Mais da metade dos entrevistados citou a falta de informações ou informações desencontradas sobre o telediagnóstico como uma barreira para a decisão de aderir ou não a esta tecnologia.


Pesquisa indica possíveis ações para melhorar a aceitação do telediagnóstico

Diante de todo este cenário mapeado, a Pesquisa sobre a adoção do Telediagnóstico no Brasil concluiu que uma das lacunas importantes a serem preenchidas para uma aceitação maior do telediagnóstico no país é a disseminação de informações de qualidade sobre esta nova tecnologia.

Para reduzir essa sensação de assimetria de informação percebida pelos entrevistados, o levantamento sugere que o CFM invista mais em campanhas educacionais para esclarecimentos sobre o uso do telediagnóstico não só entre os profissionais da área da saúde, mas com o público em geral.

Os resultados indicam que parte da resistência encontrada para implementação dessas novas práticas no Brasil está relacionada à falta de conhecimento aprofundado sobre o assunto. Mais da metade dos entrevistados indicou falta de informação como o principal obstáculo à adoção generalizada de telediagnósticos.

“Além disso, programas educacionais podem ajudar a reduzir os atritos associados à imagem e aos riscos pessoais associados a essas ferramentas, que ainda são percebidas como complexas, incompatíveis e extremamente dependentes de serviços e sistemas de suporte”, conclui o estudo.

Outro ponto de atenção é o relato de apreensão quanto a segurança dos dados. Sensação que o estudo aponta como natural diante do número de invasões de hackers a grandes sistemas divulgados com frequência pelos grandes veículos de comunicação.

Ao mostrar que, ao contrário do que se imaginava, a maioria dos profissionais da área médica se mostra favorável a prática do telediagnóstico, o estudo aponta para a necessidade de investigação dos motivos por trás de atitudes de resistência contra a nova resolução da telemedicina publicada pelo CFM. Outras razões, como questões políticas, culturais e institucionais também devem ser apuradas.

incuca

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