Apesar de ter se popularizado apenas nos últimos anos, o primeiro relato do uso da telemedicina é bem mais antigo do que se pensa. Durante a Idade Média, na Europa, em um período que as pragas assolaram o continente, há relatos de que um médico isolou-se na margem oposta do rio para se proteger da contaminação e, de lá, comunicava-se verbalmente com um agente comunitário in loco, o qual auxiliava a população. O agente descrevia os sintomas e a evolução da doença ao médico e desse recebia orientações sobre a conduta a ser tomada.
Com o passar dos séculos muitas evoluções ocorreram, o que permitiu um grande avanço e disseminação da prática da telemedicina. O próprio estetoscópio eletrônico, criado em 1910 por S. G. Brown, em Londres, pode ser considerado um marco da telemedicina ao permitir a transmissão de sinais por cerca de 80 km, de acordo com o estudo “História da evolução da telemedicina no mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul”.
No século XIX, a invenção do telégrafo impulsionou a medicina à distância, sendo empregada, entre outros, para transmitir os laudos de exames de radiografia entre diferentes lugares. Assim como sistemas de rádio, TV e celulares, a cada invenção foram surgindo novas aplicações e desafios que contribuíram para que a telemedicina no Brasil e no mundo fosse ganhando cada vez mais espaço, em cada região com suas peculiaridades.
Neste artigo apresentaremos um breve histórico de como surgiu a telemedicina no Brasil, sua evolução e principais desafios enfrentados.
O desenvolvimento efetivo da telemedicina no Brasil iniciou na década de 1990, a partir da iniciativa privada. Um início tardio se compararmos a países como os Estados Unidos, por exemplo, que em 1967 criou seu primeiro sistema completo e interativo de telemedicina (com provedores de saúde médicos e “não-médicos”) em Boston. Somente a partir dos anos 2000, com iniciativas do poder público é que a evolução da telessaúde ganhou força em nosso país.
As iniciativas para a implementação da telemedicina no Brasil se deram pela necessidade de melhoria e fortalecimento da Atenção Primária à Saúde – APS, conforme o artigo A telessaúde como estratégia de resposta do Estado: revisão sistemática. Dentre essas iniciativas se destacam a teleconsultoria gratuita para médicos de todo país para discussão de casos clínicos, com ações de telediagnóstico e tele-educação, e importantes projetos como o Projeto de Telemedicina “Estação Digital Médica” (EDM-Milênio) iniciado em 2005.
A seguir você pode conferir uma linha do tempo com os principais avanços da telemedicina no Brasil:
Um dos desafios centrais da telemedicina no Brasil está relacionado à infraestrutura e à tecnologia para chegar até áreas remotas. Apesar do propósito da atividade ser justamente a possibilidade de atendimento a distância, existem regiões com dificuldade de se estabelecer uma comunicação remota. Além disso, para algumas modalidades como a teleconsulta, é necessário um conhecimento e familiaridade mínimos da população com a tecnologia que será utilizada para efetivar o atendimento médico.
Outro desafio diz respeito à própria regulamentação. O CFM aponta que o teleatendimento não deve ser considerado como regra, no entanto, pode ser utilizado em complemento ao atendimento presencial. Essa pode ser uma barreira para o reconhecimento da telemedicina como uma prática segura e confiável pela comunidade.
Outro desafio não é exclusivo da telemedicina: a segurança das informações e capacidade de armazenamento de dados. Com a criação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), empresas tiveram que se adaptar para oferecer maior transparência e segurança ao manusear dados dos clientes. A telemedicina no Brasil não foi diferente. Médicos e instituições de saúde devem seguir à risca o que diz a legislação e utilizar sistemas que garantam a segurança das informações de seus pacientes.
Quanto ao armazenamento de dados, a Lei 13.787 exige que as informações de saúde sejam preservadas por um período mínimo de 20 anos. Com o surgimento e utilização em massa de novas tecnologias, estamos produzindo e armazenando cada vez mais dados, o que exige uma infraestrutura robusta de data centers para atender a essa demanda. Assim como ocorre com outros serviços, a alta demanda tende a elevar o custo.
Com essa demanda provocada não somente pela telemedicina, o Brasil tem atraído olhares de grandes empresas interessadas em investir na construção de data centers. Com isso, o serviço de armazenamento de dados tende a reduzir esse custo com o passar dos anos.
Leia também: Regulamentação da telemedicina: saiba o que mudou com a nova resolução do CFM
A emergência de saúde provocada pela COVID-19 trouxe um cenário propício que acelerou o ritmo de utilização da telemedicina no Brasil e no mundo. A necessidade de isolamento das pessoas contaminadas fez com que o CFM regulamentasse em 2020 o uso da teleconsulta em caráter emergencial. Em abril de 2022, o Conselho regulamentou em definitivo o uso da telemedicina no Brasil, incluindo a teleconsulta como uma de suas modalidades. Em dezembro do mesmo ano o Governo Federal sancionou a lei da telessaúde, que instituiu e regulamentou a telemedicina em todo o território nacional, ampliando sua atuação para demais áreas da saúde, não somente a medicina.
A pandemia também trouxe outras oportunidades de pesquisa e inovação na área da saúde digital. Aqui, na Portal Telemedicina, por exemplo, foi desenvolvido um modelo de algoritmo que atua no suporte diagnóstico detectando indícios de coronavírus em Raios-X e Tomografias. A inteligência artificial faz uma varredura nos exames, avalia se estão “normais” ou “alterados”, encontra e diferencia alterações relacionadas à Covid-19 e pneumonia, podendo sinalizar para os médicos os casos que são suspeitos. Esse tipo de tecnologia permite iniciar com agilidade os protocolos de cuidados assistenciais ao paciente com suspeita da doença e complicações.
Para o futuro, acredita-se que a tecnologia vai estar cada vez mais presente nessa área, agindo como um suporte para dar mais assertividade ao trabalho dos profissionais de saúde. Sua atuação tem o objetivo de gerar dados qualificados através de inteligência artificial, agilizando processos, aumentando a precisão das ações e, consequentemente, reduzindo as falhas humanas.
Domingues, Daniela & Martinez, Israel & Cardoso, Ricardo Bertoglio & Oliveira, Helena & Russomano, Thais. (2014). História da evolução da telemedicina no mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Celes RS, Rossi TRA, de Barros SG, Santos CML, Cardoso C. A telessaúde como estratégia de resposta do Estado: revisão sistemática. Rev Panam Salud Publica. 2018
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