A medicina preventiva é uma abordagem médica focada em evitar o surgimento de doenças, promover a saúde da população, reduzir os danos causados pelas enfermidades e melhorar a qualidade de vida de indivíduos submetidos a exames e tratamentos.
Essa especialidade trabalha com um conceito amplo de saúde e vai muito além dos consultórios e da relação individual entre médico e paciente, trazendo ao centro da discussão diversos setores sociais e destacando a responsabilidade da elaboração de políticas de saúde pública.
Neste artigo você confere os três níveis de atuação da medicina preventiva, qual a diferença entre prevenção de doenças e promoção de saúde e ainda como a telemedicina e as soluções tecnológicas contribuem com essa abordagem.
A medicina preventiva pode ser compreendida por meio de três níveis que estruturam a sua atuação. Esse modelo foi proposto em 1976 por Hugh Leavell e Edwin Clark, em uma publicação onde os autores também desenvolveram a teoria da História Natural da Doença.
O objetivo desses níveis é preservar a saúde do indivíduo da melhor maneira possível, agindo desde o momento em que ele ainda está saudável até a redução dos danos de uma doença e o resguardo do paciente para que não seja submetido a intervenções desnecessárias.
Nesse entendimento, promover a saúde da população era uma medida que fazia parte do primeiro nível de prevenção. Adiante neste artigo, veremos que a ideia atual de promoção de saúde busca aprimorar os conceitos idealizados na década de 70.
Evitar o desenvolvimento de condições clínicas combatendo causas e fatores de risco. Assim começa o trabalho da medicina preventiva. A prevenção primária monitora comportamentos e fatores de risco visando conscientizar a população para evitar o surgimento de enfermidades e, no caso de doenças contagiosas, a disseminação.
Um exemplo recente são as ações tomadas — ou negligenciadas — para evitar a propagação da Covid-19. Uso de máscaras, higiene das mãos, desinfecção de ambientes, distanciamento social: esclarecer a população sobre as formas de barrar a disseminação do vírus, assim como garantir condições para que isso seja feito, são medidas que fazem parte da prevenção primária. Além da educação, outras questões de saúde pública entram nesse primeiro nível, como saneamento básico e as próprias campanhas de imunização.
Aqui também podemos destacar as orientações acerca do estilo de vida das pessoas: estímulo à atividade física, recomendações sobre alimentação saudável, campanhas de controle do tabagismo, entre outras.
Quando entramos na prevenção secundária, a palavra-chave é diagnóstico precoce. Quanto mais cedo um problema de saúde é identificado, mais cedo será possível tratá-lo. Na grande maioria das enfermidades, essa agilidade aumenta as chances de sucesso do tratamento e reduz as chances de complicações e sequelas.
A nível individual, identificar precocemente uma doença crônica, por exemplo, é fundamental para evitar que ela atinja um estágio mais crítico. A conscientização sobre a importância de exames preventivos de rotina, ou até do autoexame no caso do câncer de mama — que não substitui o exame clínico — são preocupações da prevenção secundária.
Já a nível populacional, a medicina preventiva atua nesse segundo estágio através principalmente da vigilância epidemiológica. Tão importante quanto o indivíduo detectar uma anomalia em seu organismo é a identificação do surgimento de doenças em uma população feita pelos gestores de saúde pública.
Monitoramento de incidências por região, integração de sistemas, cruzamento de dados, investimento em tecnologia. Essas são ações que permitem uma gestão populacional eficiente e a aplicação das medidas de prevenção primária e secundária.
O terceiro nível da medicina preventiva entra em ação quando o paciente já apresenta a doença em alguma fase de desenvolvimento que não mais o estágio inicial. O objetivo da prevenção terciária é reduzir os prejuízos causados pelo problema de saúde, atenuar os sintomas apresentados, inibir o avanço da doença, garantir as melhores condições de tratamento possíveis e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Esse estágio da prevenção busca acompanhar continuamente o indivíduo garantindo dignidade e proteção, além de cuidar da reabilitação do paciente.
Alguns exemplos de atuação da medicina preventiva em seu terceiro estágio são: atendimento fisioterapêutico, acompanhamento pós-operatório e políticas públicas de promoção de acessibilidade (ex: piso tátil, elevadores e banheiros adaptados, eliminação de barreiras físicas).
Para além dos três estágios da medicina preventiva propostos por Leavell e Clark, um quarto nível, conhecido como prevenção quaternária, passou a ser discutido no início do século XXI.
Proposto pelo médico belga Marc Jamoulle e oficializado pela Organização Mundial dos Médicos Gerais, de Família e de Comunidade (WONCA), o conceito de prevenção quaternária ficou definido como “a detecção de indivíduos em risco de tratamentos e intervenções excessivos para protegê-los de novas intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis”.
Dessa forma, a intenção de discutir um quarto nível da medicina preventiva vem de uma preocupação ética com a administração de tratamentos nocivos e procedimentos que, na realidade, seriam dispensáveis. O debate remonta a um dos aforismos de Hipócrates, conhecido como pai da medicina: primum non nocere. Do latim, “primeiro, não causar nenhum mal” ou “princípio da não-maleficência”.
A prevenção quaternária problematiza algumas questões como a medicalização de fatores de risco e o aumento de casos de pacientes hipocondríacos.
Essa abordagem propõe um olhar centrado no paciente e no diálogo entre este e o médico, redobrando a atenção sobre aspectos como o histórico de saúde do paciente, a totalidade dos sintomas e os riscos dos exames solicitados e dos tratamentos a serem administrados.
Embora o modelo elaborado na década de 70 já adiante a relevância de se manter as pessoas saudáveis, o seu foco ainda está na prevenção das doenças. Foi em 1986, na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada no Canadá, que a ideia de promoção de saúde ganhou os holofotes.
Deste encontro resultou a Carta de Ottawa, que aponta para a influência que os aspectos sociais possuem na saúde da população e ressalta a importância da mudança de hábitos construída na presença de ambientes favoráveis e através da ação comunitária.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a promoção de saúde como o “processo que permite que as próprias pessoas melhorem sua saúde e aumentem o controle sobre ela. Ele supera o foco no comportamento individual e se detém sobre uma ampla gama de intervenções sociais e ambientais”.
Ainda de acordo com as diretrizes da OMS, esse processo é alcançado através da construção de políticas públicas com ênfase em:
CZERESNIA, D. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro, 2003.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de Atenção primária: Rastreamento. Brasilia, 2013.
LEAVELL Hugh R.; CLARK, Edwin G. Medicina Preventiva. 1976.
NORMAN, Armando Henrique; TESSER, Charles Dalcanale. Prevenção quaternária na atenção primária à saúde: uma necessidade do Sistema Único de Saúde. Florianópolis, 2019.
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