Gestão de Clínicas e Hospitais

Protocolo de Manchester: O que é, cores, tempos de espera e como aplicar na triagem

12 min. de leitura

Identificação de braço das cores do protocolo de Manchester

O Protocolo de Manchester é um sistema estruturado de classificação de risco utilizado em emergências para priorizar o atendimento conforme a gravidade do quadro clínico. Ele organiza o fluxo de pacientes por cores, define tempos máximos de espera e ajuda equipes e gestores a reduzir mortalidade, superlotação e conflitos sobre a ordem de atendimento. Se você quer entender em detalhe o que é o protocolo de Manchester, como funcionam as cores, quem aplica e como implementar na sua instituição, este guia foi feito para isso.

O que é o Protocolo de Manchester?

O Protocolo de Manchester é um método de triagem criado em 1994 pelo médico Kevin Mackway-Jones, inicialmente adotado no Manchester Royal Infirmary, na Inglaterra, e hoje utilizado em dezenas de países, incluindo o Brasil. Ele é um sistema de classificação de risco que organiza pacientes em categorias de prioridade com base na urgência clínica, usando um esquema de cores e tempos máximos de espera. A lógica é simples: garantir que os casos mais graves sejam atendidos primeiro, mesmo quando a ordem de chegada não é respeitada.

Em resumo: é uma ferramenta de triagem baseada em evidências, que não substitui o diagnóstico médico, mas organiza o atendimento e reduz o risco de atrasos críticos.

Para que serve o Protocolo de Manchester?

O principal objetivo do Protocolo de Manchester é priorizar o atendimento conforme a urgência, garantindo rapidez para casos críticos e organização para os demais. Entre os benefícios estão:

  • Redução de óbitos e complicações causadas por demora no atendimento.

  • Organização eficiente do fluxo da sala de espera e do pronto-atendimento.

  • Comunicação clara com pacientes sobre prioridade e tempo estimado de atendimento.

  • Maior segurança clínica e padronização de condutas de triagem.

  • Melhoria na gestão de recursos humanos e físicos nos serviços de emergência.

Ao explicitar as prioridades, o protocolo também ajuda a reduzir conflitos na recepção e na sala de espera, pois a equipe pode justificar a ordem de atendimento com base na classificação de risco.

Conheça: O padrão essencial para imagens médicas e telemedicina (DICOM( 

Cores do Protocolo de Manchester e tempos de espera

No protocolo de Manchester, cada paciente recebe uma pulseira colorida que indica o grau de urgência e o tempo máximo de espera recomendado. Isso facilita a comunicação entre equipe e pacientes e torna o processo mais transparente.

Cada paciente recebe uma pulseira colorida que representa a prioridade do atendimento, conforme o grau de risco identificado durante a triagem. Conheça abaixo os níveis de classificação:

COR NÍVEL DE URGÊNCIA TEMPO MÁXIMO DE ESPERA EXEMPLOS DE CASOS
Vermelho Emergencial Atendimento Imediato Parada cardiorrespiratória, convulsão, hemorragias graves.
Laranja Muito urgente Até 10 minutos Dores intensas, arritmias sem instabilidade, cefaleias intensas.
Amarelo Urgente Até 1 hora Desmaios, crises de pânico, dores moderadas, alterações vitais.
Verde Pouco urgente Até 2 horas Dores leves, febres, resfriados, vômitos controlados.
Azul Não urgente Até 4 horas Casos rotineiros, medicamentos, acompanhamento de doenças crônicas.

Esse sistema visual facilita a comunicação entre equipe e paciente e permite melhor organização do atendimento.

Como o Protocolo de Manchester funciona na prática da emergência

Ao chegar ao pronto-atendimento, o paciente é inicialmente acolhido pela recepção e, em seguida, encaminhado à triagem de enfermagem. Nessa etapa, um profissional treinado aplica o protocolo de Manchester seguindo um roteiro clínico.

Etapas básicas da triagem

Na triagem, a equipe de enfermagem:

  • Registra a queixa principal (ex.: dor no peito, falta de ar, febre, trauma, mal-estar geral).

  • Avalia sinais vitais: pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura e saturação de oxigênio.

  • Avalia a intensidade da dor com escalas reconhecidas.

  • Observa nível de consciência e outros sinais de gravidade (confusão mental, dificuldade para respirar, sangramento ativo).

A partir disso, o profissional seleciona um “fluxograma” ou apresentação clínica (como dor torácica, dispneia, trauma, etc.) e aplica “discriminadores” pré-definidos, que são sinais e sintomas que direcionam a cor (por exemplo, dor intensa, alteração de consciência, sinais de choque). Essa combinação leva à definição da pulseira de cor e do tempo máximo de espera recomendado para aquele caso.

O protocolo serve como guia padronizado para priorizar, mas não substitui o julgamento clínico. Pacientes podem ser reavaliados e reclassificados se houver piora enquanto aguardam.

Quem pode aplicar o Protocolo de Manchester? Capacitação e equipamentos

A aplicação do protocolo de Manchester é, em geral, responsabilidade da equipe de enfermagem, que deve ser treinada e certificada. No Brasil, a formação é oferecida por instituições como o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco (GBCR), que adapta o protocolo à realidade local e atualiza conteúdos conforme avanços científicos.

Requisitos para aplicação segura

Além do treinamento, a triagem exige:

  • Esfigmomanômetro (medidor de pressão arterial).

  • Oxímetro de pulso.

  • Termômetro clínico.

  • Glicosímetro (quando necessário).

  • Pulseiras ou etiquetas coloridas padronizadas.

O conhecimento técnico, somado a equipamentos adequados, permite uma avaliação rápida e confiável para definir a cor correta.

Vantagens do protocolo de Manchester para diferentes públicos

Para pacientes

  • Atendimento mais rápido nos casos graves.

  • Maior transparência na ordem de atendimento.

  • Sensação de segurança e cuidado organizado.

Para profissionais de saúde

  • Apoio à tomada de decisão na porta de entrada.

  • Critérios padronizados que reduzem subjetividade e variabilidade entre triadores.

  • Menos pressão individual para decidir “quem entra primeiro”, diminuindo conflitos com familiares.

Para gestores hospitalares

  • Otimização do uso de leitos, equipes e salas de atendimento.

  • Redução da superlotação e do tempo médio de permanência na emergência.

  • Dados estruturados por cor e tempo de espera, úteis para dimensionamento de recursos e negociação com operadoras e gestores públicos.

Público-Avo Benefícios
Pacientes Atendimento ágil e seguro, redução do tempo de espera.
Profissionais de Saúde Melhora na tomada de decisão e organização do fluxo de trabalho.
Gestores Hospitalares Otimização dos recursos, diminuição da superlotação e maior eficiência.

Como implementar o Protocolo de Manchester na sua instituição

Para uma implementação bem-sucedida, é importante encarar o protocolo como um projeto institucional, não apenas um treinamento pontual.

Passos recomendados:

  1. Sensibilizar a liderança e as equipes
    Apresentar objetivos, benefícios e mudanças de processo para médicos, enfermagem, administrativo e TI.

  2. Capacitar e certificar a equipe de enfermagem
    Buscar cursos reconhecidos, presenciais ou híbridos, com prática supervisionada.

  3. Rever fluxos de atendimento na porta de entrada
    Ajustar recepção, triagem, sala de espera e fluxo para consultórios e leitos de observação.

  4. Conectar o protocolo aos sistemas digitais de gestão
    Registrar a cor da classificação no prontuário, painéis de triagem e relatórios gerenciais, permitindo monitorar tempos por cor e identificar gargalos.

  5. Implantar auditorias e educação continuada
    Avaliar periodicamente acertos, subtriagens e supertriagens, revisando processos e reciclando a equipe.

Protocolo de Manchester, teletriagem e suporte digital

A digitalização da saúde abre espaço para integrar o protocolo de Manchester a sistemas de gestão, teletriagem e telemedicina. Plataformas modernas permitem:

  • Registrar a classificação de risco diretamente em sistemas de emergência e prontuário eletrônico.

  • Acompanhar em tempo real o tempo de espera por cor, ajudando a priorizar recursos.

  • Apoiar triagens iniciais à distância, com teletriagem e IA, especialmente em redes com muitas unidades ou regiões remotas.

Soluções como as da Portal Telemedicina, que unem interoperabilidade com prontuário, laboratórios, LIS e PACS, podem ser integradas a fluxos de urgência para acelerar laudos de exames críticos e apoiar a tomada de decisão em casos laranja e vermelhos, tanto em grandes cidades quanto em regiões remotas.

Atualizações e normas técnicas

No Brasil, o protocolo de Manchester é reconhecido e recomendado por diferentes serviços de saúde, embora não exista lei que o torne obrigatório. Grupos como o GBCR mantêm o conteúdo atualizado, incorporando:

  • Diretrizes nacionais de urgência e emergência.

  • Uso de tecnologia, como telemedicina e ferramentas digitais, para registrar triagens, gerar relatórios e apoiar a gestão.

Gestores devem acompanhar essas atualizações e garantir que suas equipes mantenham certificações válidas e reciclagens regulares.

Limitações e importância da reavaliação

Mesmo sendo um sistema robusto e internacionalmente validado, o protocolo de Manchester tem limitações e precisa ser aplicado com senso clínico:

  • Não é um diagnóstico definitivo: apenas orienta prioridade.

  • Depende fortemente da qualidade da capacitação e da experiência da equipe.

  • Requer reavaliações periódicas de pacientes que aguardam, pois um quadro inicialmente verde pode se agravar e precisar de reclassificação.

Por isso, a instituição deve prever fluxos de reavaliação na sala de espera e auditorias regulares sobre a qualidade da triagem.

Impactos comprovados do protocolo de Manchester

A adoção consistente do protocolo tem demonstrado, em diferentes contextos:

  • Redução do tempo médio de espera em emergências, especialmente em casos graves.

  • Diminuição de mortalidade e complicações associadas a atrasos.

  • Melhor satisfação dos pacientes em relação à organização e transparência.

  • Uso mais racional de recursos humanos e de infraestrutura.

Quando associado a sistemas digitais de gestão e a estratégias de telemedicina, o impacto tende a ser ainda maior, pois o gestor ganha visibilidade em tempo real do que acontece na porta de entrada e consegue intervir com mais agilidade.

Conclusão

O Protocolo de Manchester é uma ferramenta chave para organizar o atendimento em emergência, tornando a classificação de risco mais segura, transparente e alinhada à gravidade de cada paciente. Quando combinado com capacitação de qualidade, sistemas digitais e estratégias de telemedicina, ele se torna um grande aliado não apenas para salvar vidas, mas também para apoiar equipes e gestores na construção de serviços de urgência mais eficientes e humanos.

Perguntas Frequentes (FAQ)

 

O protocolo de Manchester é obrigatório no Brasil?

Não é obrigatório por lei, mas amplamente recomendado por entidades de saúde e utilizado como padrão em muitos hospitais.

Qual a diferença entre o Protocolo de Manchester e outros protocolos de triagem?

O Manchester é um dos mais completos e testados internacionalmente, com sistema de cores simples e eficaz para priorização.

Quem pode aplicar o protocolo?

Profissionais de enfermagem capacitados e treinados justamente para avaliar corretamente os pacientes.

O que fazer enquanto aguardo o atendimento?

Informe à equipe qualquer nova alteração no seu estado para que possam reavaliar sua prioridade, se necessário.

 

 

Redação

Redação é o time de especialistas em conteúdo da Portal Telemedicina, responsável por criar e compartilhar informações atualizadas e relevantes sobre tecnologia em saúde, telemedicina e inovações no setor.

Conteúdos recentes

Acidente e incidente na saúde ocupacional: entenda a diferença e evite riscos graves

Na saúde ocupacional, entender a diferença entre acidente e incidente não é detalhe semântico é…

22 de dezembro de 2025

BPO financeiro para clínicas: o que é, como funciona e quando vale a pena

BPO financeiro é a terceirização estruturada da gestão financeira da clínica para uma equipe especializada,…

19 de dezembro de 2025

Escala NIHSS: o que é, como aplicar e por que ela é decisiva no AVC

A escala NIHSS (National Institutes of Health Stroke Scale) é um dos instrumentos mais importantes…

18 de dezembro de 2025

DMED na prática: como clínicas, hospitais e serviços de saúde podem evitar riscos fiscais e organizar a gestão

DMED é mais do que uma obrigação fiscal. Ela conecta faturamento, prontuário, confiança do paciente…

16 de dezembro de 2025

Índice Tornozelo-Braquial (ITB): O que é, como medir, valores normais e como interpretar o resultado

O índice tornozelo-braquial (ITB) é um dos exames mais simples, rápidos e eficazes para avaliar…

12 de dezembro de 2025

Prescrição de enfermagem: Conceito, etapas, fundamentos legais, como fazer e modelos práticos

A prescrição de enfermagem é um componente essencial do Processo de Enfermagem (PE) e um…

11 de dezembro de 2025