Hospital digital: a importância de ser paperless

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hospital digitalAmpla adoção e integração de tecnologias e ferramentas de tecnologia da informação para  ganho de eficiência, melhoria da qualidade no atendimento e da segurança do paciente. Estas são as principais características de um hospital digital, de acordo com as definições da Healthcare Information and Management System Society (HIMMS). Mas, afinal, o que é preciso para alcançar a mais alta certificação da HIMMS e ser considerado um hospital digital?

A associação internacional estabelece critérios e níveis, que vão de zero a sete, para  classificar hospitais no seu processo de informatização e digitalização de processos. Para cada nível é necessária a inserção de soluções, como softwares de gestão hospitalar (Enterprise Resource Planning – ERP), do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e de sistemas para compartilhamento e armazenamento de imagens (Picture Archiving and Communication System – PACS). Estas ferramentas permitem que o hospital dispense o uso de papel e troque informações interna e externamente de forma totalmente digital por meio da plena integração de  sistemas.

Neste  artigo, vamos falar mais sobre cada estágio de evolução na classificação de hospitais digitais e entender como as instituições já digitalizadas podem se beneficiar ainda mais com a adoção de novas tecnologias, como IoT, Big Data, telemedicina, entre outras.

Os oito estágios da HIMSS

Chegar ao mais alto estágio na classificação de hospitais digitais é um processo longo e gradual de investimento e inclusão e assimilação de tecnologias. Para tanto, cinco macroáreas devem ser atendidas:

  • Digitalização das informações – do paciente e  da administração do hospital;
  • Sistemas de apoio à decisão clínica – para verificação de erros durante a prescrição e pedidos de exames, circuito fechado de administração de medicação, além de protocolos clínicos como base das ações;
  • Capacidade de intercâmbio de informação e relatórios complexos – contendo resultados clínico-assistenciais;
  • Utilização completa e plena de soluções de gestão hospitalar – Enterprise Resource Planning (ERP), Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens (PACS);
  • Integração e interoperabilidade total – capacidade máxima de comunicação e troca de dados pelos diferentes sistemas de informação, que devem utilizar padrões de linguagem e protocolos que permitam que as informações sejam acessadas por profissionais de saúde, laboratórios, hospitais e pacientes, independentemente do sistema ou fornecedor.

Como falamos, a certificação HIMSS é dividida em oito estágios classificados de zero a sete sendo que os mais almejados são o seis e o sete. O estágio seis é o de interoperabilidade interna, ou seja, a integração entre todos os sistemas usados pelo hospital; já o estágio sete é o da interoperabilidade externa, tornando-se  um hospital ‘zero papel’ (paperless), que se comunica plenamente com operadoras de saúde, laboratórios, fornecedores, e outros agentes externos que participam da assistência ao paciente.

Nesta classificação, o hospital também já usa Business Intelligence (BI) para estruturar informações e analisá-las de forma que permitam tomadas de decisão mais assertivas nas áreas clínica, financeira e operacional. Conheça cada estágio e verifique em que momento está a sua instituição:

  • Estágio 0 –  não possui nenhum tipo de sistema ou tecnologia que dê apoio à assistência ao paciente – os sistemas de gestão clínico-departamentais (LIS – laboratório, RIS – radiologia e PHIS – farmácia) não estão instalados ou não são integrados e não há nenhuma disponibilização online de informações;
  • Estágio 1 – sistemas para Laboratório, Radiologia e Farmácia instalados e integrados; ou resultados de exames disponibilizados online a partir de prestadores de serviços externos;
  • Estágio 2 – repositório de dados clínicos (CDR) instalado e centralizado. Pode ter um Vocabulário Médico Controlado (CMV), sistema de apoio à decisão clínica para checagem básica de interações e capacidade de intercâmbio de informação clínico-assistencial;
  • Estágio 3 – documentação de enfermagem no Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), inclusive com a checagem do que é registrado. Sistema de apoio à decisão clínica (CDSS) para verificação de erros durante a prescrição e solicitação de exames. Sistema de Arquivamento e Comunicação de Imagens (PACS) disponível também fora da Radiologia;
  • Estágio 4 – sistema de prescrição e solicitação de exames e procedimentos (CPOE) instalado em pelo menos uma área assistencial. Sistema de apoio à decisão clínica baseado em protocolos clínicos;
  • Estágio 5 – PACS com as principais modalidades de diagnósticos, com possibilidade de eliminação do filme;
  • Estágio 6 – circuito fechado da administração de medicamentos, inclusive com checagem à beira leito. Interação da documentação médica com sistemas de apoio à decisão clínica (modelos estruturados e alertas de variância e conformidade);
  • Estágio 7 ou Electronic Medical Record Adoption Model (EMRAM) – PEP completo em pleno uso por todos os setores do hospital com dados clínicos disponíveis entre todos os setores: emergência, internação, UTI, ambulatório,  centro cirúrgico e integração total para compartilhar informações interna e externamente. Há também um depósito de dados digitais alimentando relatórios com resultados clínico-assistenciais, qualidade e Business Intelligence (BI).

Porém, é importante frisar que o conceito de hospital digital vai além da tecnologia, e deve vir acompanhado de uma mudança de cultura interna. A instituição, em todos os seus processos e posicionamentos, precisa acompanhar a evolução com sinergia entre o corpo clínico e o administrativo. Só assim será possível entender e usufruir das vantagens e benefícios práticos das implantações tecnológicas.

A HIMSS já avaliou mais de 8 mil hospitais em todo o mundo. Somente na Europa, cerca  de 1,3 mil instituições já sabem qual seu estágio, sendo apenas três hospitais estágio 7 e 46 instituições validadas como estágio 6. Nos Estados Unidos, apenas cerca de 3% dos hospitais atingiram o estágio 7.

Na América Latina, o Hospital Unimed Recife III foi o primeiro a conquistar o reconhecimento de EMRAM 7, em dezembro de 2016. Além dele, no Brasil também são nível 7 o Hospital Márcio Cunha de Ipatinga/MG e a Unimed Volta Redonda. Hoje, há outros 25 hospitais brasileiros no Estágio 6 da HIMSS, entre eles o Hospital Sírio Libanês, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Idoso Zilda Arns, Hospitais Beneficência Portuguesa (Filantrópico, Mirante e BP) e algumas unidades da Unimed (Chapecó, Sorocaba, Caruaru, Sulcapixaba e Maternidade Grajaú de Belo Horizonte).

Para buscar as certificações da HIMSS, os hospitais devem solicitar uma avaliação prévia, realizada pelas consultorias parceiras da entidade. Depois desta etapa, a validação do material é realizada pela HIMSS na Europa e a tabulação e armazenamento das informações são feitos pela entidade americana. Em caso de classificação nível seis ou sete, inspetores da HIMSS vem ao Brasil para realizar avaliação in loco.

Vantagens do EMRAM 7

Entre os grandes benefícios da conquista do EMRAM 7 está a efetiva melhoria no atendimento ao paciente, com maior precisão no diagnóstico e segurança, além de uma margem operacional maior e redução de custos.

Apesar do grande investimento em infraestrutura de TI para garantir o acesso aos dados e a segurança de todo este sistema, os hospitais nível 7 conseguem retorno dos valores facilmente. O Hospital Unimed Recife III, por exemplo, teve uma redução de gastos cinco vezes superior ao investido no projeto de operação totalmente digital.

Em relação às melhorias no atendimento, podemos destacar que, com o uso pleno do Prontuário Eletrônico e a integração dos sistemas, as informações sobre todo o tratamento são administradas de forma alinhada, desde a farmácia clínica à equipe multidisciplinar garantindo a aplicação com segurança. No momento da prescrição de um medicamento, o profissional de saúde já sabe se a droga que ele está indicando interage com outro remédio prescrito anteriormente para o paciente. Se isso ocorrer, ele é alertado imediatamente que a medicação não terá o efeito desejado.

O futuro do hospital digital

O conceito de hospital digital não deve ser considerado o auge da implantação tecnológica. Ele é, na verdade, o ponto de partida para as inovações. Apesar de muitas soluções ainda não terem sido aplicadas por completo por inúmeras instituições de saúde, já há novas ferramentas surgindo e outras se modernizando.

Entre elas estão a Internet das Coisas (IoT), telemedicina, Inteligência Artificial, Cloud Computing, Big Data/Analytics etc., que já começaram a ser integradas aos sistemas hospitalares. Portanto, os hospitais que já têm uma estrutura digital, automatizada e integrada, poderão se adaptar mais facilmente e usufruir da eHealth.

A saúde digital é o caminho para a medicina do futuro. Juntos, o desenvolvimento e domínio das tecnologias de ponta e a evolução do conhecimento médico proporcionarão grandes melhorias nos processos clínicos, no tratamento dos pacientes e nas condições de custeio ao Sistema de Saúde.

Rafael Figueroa

Rafael Figueroa é Cofundador e CEO da Portal Telemedicina. Graduado em Economia (UFSC) e especializado em Design Thinking (Berkeley University), Rafael também é pesquisador em novas tecnologias na Saúde e Inteligência Artificial. Como Google Developer Expert em Machine Learning, foi convidado a ser mentor de Startups no Vale do Silício.

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