Cloud computing: armazenando dados de saúde na nuvem

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cloud computingQual o melhor local para armazenar dados médicos: na nuvem ou em servidores internos? Apesar do cloud computing não ser mais uma tendência nem mesmo uma novidade, inclusive para a área da saúde, a questão ainda gera dúvidas entre os gestores de hospitais brasileiros.

Requisitos como segurança e custos de implantação são os mais relevantes para quem lida com uma enorme quantidade de dados hospitalares e clínicos. O desafio então é entender as vantagens e possibilidades de utilizar as soluções em nuvem para guardar e otimizar o uso das informações geradas pela instituição e como a tecnologia pode ser integrada à rotina hospitalar.

A seguir, traremos os principais pontos a respeito do cloud computing na saúde para que gestores possam compreender os benefícios dessa inovação em relação aos métodos tradicionais de armazenamento de arquivos. Também vamos apresentar os modelos de nuvem mais usados e as principais empresas que oferecem soluções para o setor.

Quais os ganhos ao se utilizar cloud computing na saúde?

As vantagens da adoção de sistemas em nuvem, tanto do ponto de vista de negócios quanto em relação a otimização de processos são várias. O cloud computing traz maior segurança e agilidade no acesso aos dados, além de redução nos custos em infraestrutura e atendimento sob demanda. Vamos especificar cada um dos benefícios:

Segurança

Este é o ponto principal e que gera as maiores dúvidas. Por isso, vamos começar analisando o método “tradicional” de armazenamento de dados, ainda bastante utilizado em muitos hospitais brasileiros: os data centers (CPDs) e servidores internos. A ideia de usar hardwares próprios para guardar informações administrativas e clínicas pode até passar a impressão de maior segurança, pois se imagina que não há ninguém melhor para cuidar das informações estratégicas e importantes do que a própria empresa que as utiliza. Mas acredite: os dados estão realmente mais seguros na nuvem do que no servidor do hospital. E vamos explicar o por quê:

Por mais seguro que pareça o espaço onde está localizado o CPD, com senhas para autorizar a entrada de pessoas, câmeras de monitoramento e alguns firewalls anti-hackeamento do sistema, os servidores internos ainda são muito mais expostos a invasões e outros problemas de armazenamento que aqueles na nuvem.

Isso porque, todos os recursos utilizados pelo provedor dos serviços de nuvem – como criptografia de ponta a ponta, autenticação segura, anonimização, monitoramento e etc – recebem muito mais investimento do que qualquer solução individual que uma organização possa contratar ou criar. Além disso, os arquivos ficam em diversos servidores, o que protege os dados contra ataques virtuais e incidentes físicos, como incêndios ou inundações, e qualquer falha de segurança pode ser rapidamente detectada e corrigida, atualizando instantaneamente o sistema para os usuários.

Outro questionamento em relação à segurança trata-se de acreditar que na solução em nuvem os dados podem ser vistos por terceiros. Mas, de acordo com os fornecedores das soluções isso também não acontece. Quem administra as permissões dos usuários dentro do servidor é a empresa contratante, e o acesso só é fornecido a quem for necessário.

Existem também legislações específicas que regulam como dados médicos sensíveis devem ser tratados. Entre elas citam-se as normatizações  da HIPPA (nos EUA), as resoluções do Conselho Federal de Medicina no Brasil (nº 1.638/2002 e nº 1.639/2002) e o conjunto de normas internacionais Health Level 7 ou HL7, produzido pela Health Level Seven International.

Hoje, os mais importantes serviços de computação em nuvem, especialmente os oferecidos para grandes organizações, são extremamente protegidos e atualizados regularmente para evitar o acesso indevido ou o comprometimento dos dados. Também vale lembrar que a expertise dos provedores destas soluções já vem sendo aprimorada desde que a ideia começou a ser implementada há vários anos.

Acesso rápido e remoto aos dados

Uma das grandes vantagens do cloud computing é o compartilhamento de informações entre os gestores e também entre o corpo clínico. Tudo isso sendo feito de uma forma mais estruturada, reduzindo riscos de extravio de documentos médicos e administrativos.

Há ainda a facilidade do acesso remoto. A mobilidade dos dispositivos tornou imperativo o acesso de dados em qualquer local. O armazenamento em nuvem, em um servidor on-line, permite acessá-los a qualquer momento, trazendo uma série de vantagens para médicos e administradores.

Com todas as informações na nuvem, pode-se também usufruir das vantagens do Big Data na saúde. Havendo uma base rica de dados, aliada à facilidade de acesso a qualquer tempo e local, fica mais fácil e ágil o processo de cruzamento e análise de dados para estabelecer possíveis padrões e gerar insights para a instituição.

Redução de custos

Neste quesito, podemos destacar duas vertentes importantes:

  • Menor infraestrutura –  O uso do cloud computing elimina o gasto com a compra de hardware e software, e instalação e execução de CPDs locais, que incluem racks de servidores, eletricidade com disponibilidade permanente para energia e resfriamento, segurança de acesso, backup, manutenção e atualização de software etc. Sem contar o espaço físico necessário para alocar todos estes equipamentos.
  • Fácil alocação/liberação de recursos – A maior parte das soluções em nuvem é fornecida por autosserviço e sob demanda, por isso fala-se da capacidade de dimensionamento flexível e escalonamento. Ou seja, só se paga pelo que está alocado no momento, levando em consideração variáveis como a quantidade de espaço que a instituição precisa ocupar na nuvem, a quantidade de usuários simultâneos esperada e a quantidade de servidores necessários a serem alocados, por exemplo. Caso o hospital precise de mais capacidade de processamento ou armazenamento em um período de aumento de demanda, basta ampliar o serviço contratado. Assim, o gestor pode fazer rapidamente a medição do uso atual sem ficar preso ao uso potencial da ferramenta pelos próximos anos, afinal, com a nuvem, a qualquer momento é possível aumentar ou diminuir a capacidade, bem diferente do que acontece com a compra de mais hardwares e ampliação do espaço físico do CPD.
  • Execução por demanda – É a possibilidade do hospital ter parte dos seus serviços ligados a funções específicas, em que os recursos alocados são cobrados quando utilizados. Assim, o hospital irá pagar por transação ou pelo conjunto de transações. Quando há um uso maior, irá pagar mais, mas no caso do recurso estar ocioso, sem requisições, nada será cobrado.

Modelos de computação em nuvem

Conhecidos os benefícios do cloud computing, agora é preciso entender os modelos de nuvem que podem ser aplicados e, assim, optar pelo que melhor se encaixa na sua gestão hospitalar e nas soluções digitais já utilizadas pelo hospital, como a telemedicina, por exemplo. Cada tipo de serviço e método de implantação de nuvem disponibiliza diferentes níveis de controle, flexibilidade e gerenciamento. São quatro os modelos principais:

IaaS (Infraestrutura como um Serviço)

É o modelo no qual  toda a infraestrutura de servidores é contratada como serviço, para fazer o hosting de uma ou mais aplicações. O cliente paga pelo seu uso. Essa infraestrutura é, normalmente, fornecida por um grande data center e os servidores são virtuais. Ou seja, o hospital contrata capacidade de hardware (número de servidores virtuais, quantidade de dados armazenados e trafegados, memória e processamento). A cobrança é baseada no serviço de infraestrutura, sendo possível adquirir mais de acordo com a demanda.

A infraestrutura é fornecida por meio de um ambiente online privado, provendo acesso apenas aos servidores da empresa, garantindo a segurança de dados. O gerenciamento dos dados se assemelha muito com o que já é feito internamente, com a diferença que não é necessário dispor da estrutura física de armazenamento e, claro, com mais segurança e escalabilidade.

PaaS (Plataforma como Serviço)

Neste modelo, além da infraestrutura disponibilizada, é possível contar com uma plataforma para desenvolvimento de aplicações oferecidas na nuvem, personalizando-a para a instituição. Assim, a implementação se torna mais simples e diminui a complexidade do projeto, já que o modelo de plataforma oferece recursos necessários para o desenvolvimento de aplicações, tornando-a disponível via web.

SaaS (Software como serviço)

É o modelo mais simples e um dos mais utilizados atualmente. As aplicações já estão prontas para diferentes usos – como os laudos online à distância – e são disponibilizadas na nuvem pelos provedores. Utiliza-se das vantagens de compartilhamento do cloud computing para facilitar o acesso a um grande número de usuários, que podem fazê-lo via browser ou até mesmo por um aplicativo disponibilizado pelo provedor.

No Saas é possível adquirir mais ou menos aplicações de serviços, de acordo com o aumento ou diminuição da demanda. Esse modelo é praticado por empresas que comercializam o software como produto final – e não o ambiente e/ou plataforma como nos outros modelos.

FaaS (Função como Serviço)

É a opção que hoje traz menor custo agregado, pois é uma maneira de se chegar a um uso de nuvem ” sem servidor” (serverless) para a criação, uso e gerenciamento de micro-serviços. Em um sistema FaaS, as funções devem começar em milissegundos para permitir o tratamento de pedidos individuais. Essa é a principal diferença em relação ao  PaaS, que continua sendo executado por um longo período de tempo e lida com múltiplos pedidos. Assim, no FaaS os serviços são cobrado por tempo de execução da função, enquanto no PaaS cobra-se por tempo de execução do segmento em que o aplicativo do servidor está sendo executado.

Soluções em Cloud Computing

Podemos destacar como sendo as principais soluções em cloud computing para organizações:

  • Google Cloud (PaaS com o Google App Engine) – nuvem da Google é a que mais ganhou adeptos nos últimos anos, tendo passado seus concorrentes em gestão de custos, usabilidade e suporte, mas apresenta menos experiência em nuvem corporativa.
  • Amazon AWS (IaaS como padrão, mas também utiliza PaaS) –  é o maior provedor atualmente, com um grande número de opções tanto em serviços como em recursos. Por ser o maior e estar há mais tempo no mercado, conta em seu time com profissionais de grande expertise em nuvem, o que pode ser um diferencial para os contratantes.
  • IBM SoftLayer (IaaS) IBM SoftLayer – forte destaque na facilidade de uso para o tipo de profissional de TI que está acostumado com a infra in-house ou local. O IaaS IBM é direto, entregando uma estrutura pronta para usar, mas sem muito valor agregado em termos de segurança ou usabilidade. O profissional de TI da instituição precisa fazer a maior parte das configurações.
  • Microsoft Azure – vem crescendo exponencialmente, oferece os mesmos serviços que as principais operadoras de nuvem e está alinhado com o HIPPA, como este link mostra.
  • Heroku (PaaS):  a solução é uma das pioneiras neste mercado e segue como umas das principais no segmento PAAS, oferecendo um excelente suporte para Node, Ruby, Java, PHP, Python, Go, Scala, Clojure – as principais linguagens abertas atualmente. Esta é uma grande vantagem para que hospitais com necessidades específicas de sistemas simples, em fase de análise ou MVP (Minimum Viable Product ou produto mínimo viável), possam se beneficiar da ferramenta.

Por fim, é necessário considerar que, para usufruir dos benefícios da computação na nuvem, hospitais, clínicas, laboratórios e outros estabelecimentos de saúde precisam qualificar suas equipes de TI para esse sistema. É preciso contar com pelos menos um especialista em cloud computing no time interno, pois somente assim a tecnologia poderá ser gerenciada com eficiência, segurança e economia e atender as expectativas da instituição.

Rafael Figueroa

Rafael Figueroa é Cofundador e CEO da Portal Telemedicina. Graduado em Economia (UFSC) e especializado em Design Thinking (Berkeley University), Rafael também é pesquisador em novas tecnologias na Saúde e Inteligência Artificial. Como Google Developer Expert em Machine Learning, foi convidado a ser mentor de Startups no Vale do Silício.

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