15/07/2019
A definição de mhealth, ou mobile health, trata-se da prática médica ou de saúde pública que por meio de tecnologias sem fio atua com trabalhos de prevenção, monitoramento e diagnóstico de doenças.
No Brasil esse mercado está em expansão e ainda enfrenta algumas dificuldades, principalmente em relação a processos burocráticos para o desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas. Além disso, a nova regulamentação da telemedicina ainda está em debate na área médica.
Mas a projeção é que em poucos anos o mercado de mhealth já tenha dominado o mercado trazendo soluções para prevenir epidemias, auxiliar pessoas com doenças crônicas, evitar mortes, além de trazer cruzamentos de dados mais consistentes para a análise médica.
Confira a seguir o que é mhealth, como ela tem se desenvolvido no Brasil, quais são os principais desafios da área, de que forma ela impacta na economia e qual a projeção para o futuro.
Como falamos anteriormente neste artigo, Ehealth é o termo amplo que tem sido utilizado para se discutir tudo o que está relacionado à saúde eletrônica, por meio das ferramentas e soluções tecnológicas desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Já mhealth é uma subdivisão da ehealth e se refere às ferramentas e práticas realizadas em dispositivos móveis, sem fio. Conforme pesquisa da Global Observatory for eHealth, mhealth é a prática médica e de saúde pública apoiada por dispositivos móveis, como smartphones, dispositivos de monitoramento de pacientes, assistentes digitais pessoais (PDAs) e outros dispositivos sem fio.
A mhealth surge para facilitar não somente a vida do paciente, ajudando no monitoramento de tratamentos e consumo de medicamentos, por exemplo, como para otimizar serviços hospitalares em clínicas, laboratórios e até mesmo farmácias.
De acordo com o artigo Saúde Móvel: novas perspectivas para a oferta de serviços em saúde, a popularização destes dispositivos móveis pode contribuir para a redução dos gastos em saúde, minimização dos erros médicos, prevenção de hospitalizações desnecessárias e ampliação das possibilidades de interação entre pacientes e profissionais de saúde.
Hoje tema dos principais debates entre autoridades na área da saúde no mundo todo, a mhealth faz parte dos assuntos de abrangência do Observatório Mundial de Saúde Eletrônica, criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Entre as tecnologias que têm ganhado destaque no mundo há acessórios como relógios, brincos e pulseiras capazes de medir a temperatura e a frequência cardíaca, sapatos que avaliam equilíbrio e movimento, biossensores implantáveis para monitoramento da glicose e até desfibriladores embutidos em vestimenta para agir em caso de parada cardíaca.
Esse tipo de tecnologia tem auxiliado também na melhora da qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas como Parkinson, além de paralisias e lesões na coluna, por exemplo. Também tem facilitado processos gerenciais em farmácias, hospitais e clínicas médicas.
Outra forma de forte atuação das mhealth é na prevenção a problemas de saúde. Um exemplo são aplicativos que incentivam a prática esportiva e estimulam a adoção de hábitos de alimentação mais saudáveis para combater a obesidade.
No Brasil, o mercado de mhealth está em expansão, mas ainda é incipiente e se concentra em maior escala na região da grande São Paulo. Levantamento da Startup Base mostra que até junho de 2019 o país tinha 389 startups na área da saúde, a maioria ligada a mhealth, destas 129 em fase de tração e 98 em operação.
Boa parte das ferramentas ainda passam por fase de testes e processo de regulamentação. Entre algumas tecnologias em desenvolvimento estão ferramentas que ajudam no controle de estoque e rastreamento de materiais em Centrais de Material e Esterilização (CME) para evitar desperdícios ou falta de instrumentos em estoque; um modelo de almofada antiescaras para cadeirantes; e um protótipo de monitoramento cardíaco por meio de um anel que detecta sinais biológicos e os transmite via bluetooth para o celular.
Boa parte destes estudos começam a ser desenvolvidos em universidades e escolas técnicas, que têm impulsionado e estimulado este processo de inovação na área da saúde no país.
O doutor e pesquisador líder de inteligência artificial na Portal Telemedicina, André Targino, destaca que a mhealth tem papel muito importante principalmente para as doenças ou qualquer medida em que o tempo seja determinante.
Com estas ferramentas, o paciente tem acesso a informações que podem indicar que ele precisa de ajuda médica e garantir este acesso de forma muito rápida.
“Antes disso, para ter essas informações, o paciente teria que ir para um hospital ou falar com um médico ou especialista na área, agora ele tem acesso a essas informações de forma muito mais rápida e pode encurtar este caminho”, destaca. – André Targino, doutor e pesquisador líder de inteligência artificial na Portal Telemedicina.
Quando o paciente passa a monitorar aspectos da sua saúde com base em dados confiáveis, ele facilita o caminho e a comunicação com o médico levando informações mais detalhadas sobre sintomas e assume um papel de protagonista nos cuidados com a própria saúde.
André Targino destaca que esse tipo de tecnologia ajuda no processo de educação do paciente em relação aos cuidados com a saúde e conhecimento do próprio corpo. Além disso, ressalta que usar algoritmos em dispositivos móveis para pré-resultado permite que o médico oriente antecipadamente o paciente a tomar uma atitude nos casos em que é necessária uma ajuda rápida.
A mhealth também é vista como uma oportunidade para redução de custos com a saúde. Isso porque a tecnologia gera quantidade maior de dados a preço mais acessível do que os métodos tradicionais de pesquisa.
O estudo Liga insights Health Techs, da Liga Ventures, mostra que em 2015 o consumo de bens e serviços na área da saúde no Brasil foi de R$ 546 bilhões, o equivalente a 9,1% do PIB. A tecnologia e os produtos digitais são a grande aposta para redução destes gastos.
Além da economia do governo no que diz respeito aos gastos com a saúde pública, essas inovações tecnológicas são vistas como alternativas para os hospitais, clínicas e profissionais que operam neste campo para reverter a situação dos gastos elevados e diminuição das receitas por conta na crise dos planos de saúde, que estão entre as principais fontes pagadoras desses locais,
Estudo feito pela GSMA em parceria com a PwC, em 2013, previa que em quatro anos o Brasil economizaria US$ 14,1 bilhões com a mhealth.
Como o tema ainda é considerado recente, ainda há uma discussão entre a classe médica sobre como regulamentar esta prática em relação a questões éticas e no que se refere à privacidade do paciente.
Uma nova resolução sobre a telemedicina no Brasil, que inclui questões referentes a segurança e sigilo de informações pessoais do pacientes com o uso das tecnologias, está em debate.
Em fevereiro de 2019, o Conselho Federal de Medicina (CFM) chegou a publicar a resolução 2.227/2018, que estabelecia normas éticas para o atendimento por meio da telemedicina, mas após reivindicações e pedidos de revisão por parte de coordenações regionais recuou e decidiu reavaliar o documento.
Um dos pontos em debate quando se fala em telemedicina é como fica a relação médico-paciente. Há uma preocupação para que não haja um distanciamento que possa comprometer o olhar e exame clínico do médico, por exemplo, considerado fundamental para um diagnóstico preciso.
André Targino destaca que as coisas precisam ser feitas com critério e cuidado:
“Em algumas situações não haverá como dispensar o exame clínico e a consulta presencial, mas algumas áreas serão muito otimizadas e há situações de urgência que podem ser resolvidas rapidamente à distância e se o problema foi detectado rápido, isso salvará a vida da pessoa”, diz.
Embora tenha se desenvolvido rapidamente nos últimos anos, a mhealth ainda está em expansão e tem longo caminho pela frente no Brasil. Um dos obstáculos desta tecnologia está relacionado ao alto custo destas ferramentas, avanço da velocidade e acesso à internet no Brasil e aos entraves burocráticos para análise e aprovação de projetos.
Alguns dispositivos ainda estão em fase de testes ou são muito recentes e ainda pouco utilizados e, por isso, ainda não há um alto grau de confiabilidade. Pesquisa da Liga insights Health Techs, destaca que apesar de estarem surgindo oportunidades de crescimento para as startups de healthcare, a falta de base científica e de maturidade do mercado dificultam maiores investimentos na área.
André Targino destaca a necessidade de rigidez e cuidado na regulamentação de todos estes processos. Porém, ressalta a necessidade de torná-lo mais ágil.
“O avanço que o Brasil já está tecnologicamente é muito maior do que a velocidade em que as coisas têm sido aprovadas. Temos tecnologias com testes avançados que podem trazer benefícios muito grandes, mas ainda não estão disponíveis por causa de entraves”, diz.
Apesar de ser uma área ainda em desenvolvimento e expansão, o que fica muito claro, segundo André Targino, é como a mhealth vai melhorar, e muito, a qualidade de vida das pessoas e a assertividade das decisões médicas.
Os principais desafios para a área no futuro são uma adaptação a estes novos recursos para que se possa utilizá-los da melhor forma.
O estudo Saúde Móvel: novas perspectivas para a oferta de serviços em saúde destaca que a incorporação destes novos dispositivos e técnicas irão demandar um novo perfil de profissional da área da saúde, com domínio não só de conteúdos da área, mas também sobre assuntos relacionados a mineração de dados, ciência da computação, economia da saúde, epidemiologia, entre outros.
André Targino acredita que profissionais de algumas áreas terão de se adaptar a este novo mercado. Algumas especialidades tendem a aumentar o número de profissionais, enquanto outras tendem a perder espaço.
Como vimos neste artigo, apesar do termo mhealth ser novo e ainda com bastante espaço a ser explorado, é uma estratégia que pode trazer inúmeros benefícios e diminuição de gastos com a saúde, uma inovação tecnológica bem-vinda e alternativa para hospitais, clínicas e profissionais da saúde.
Entre os dias 29 e 31 de outubro de 2024, São Paulo foi o centro…
O mapeamento cerebral no autismo tem se destacado como uma ferramenta essencial no diagnóstico e…
Com a expansão da saúde digital, clínicas e hospitais estão investindo em sistemas de integração…
A recepção de uma clínica desempenha um papel essencial na primeira impressão que o paciente…
As doenças preexistentes são um tema relevante, especialmente para quem busca contratar planos de saúde…
Você já sentiu aquela dor nas costas que parece não ter fim? Ou talvez um…